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31 de ago. de 2016

O que dirão a seu respeito quando tudo isso passar?


Por ser cristão, sempre me perguntei sobre de qual lado eu estaria, se tivesse nascido há dois mil anos na palestina: do lado dos que clamavam "Crucifica-o!" ou se estaria do lado do Cristo, como as mulheres estavam. Por ser brasileiro, sempre me perguntei também de qual lado eu estaria em 1964: do lado dos privilegiados pelo Golpe Civil-militar, ou dos militantes de resistência ao regime de exceção. "De qual lado eu estaria?".

A pergunta que sempre me fiz, não pairou sobre minha cabeça por eu ser uma pessoa que se posiciona tendo em vistas estar do "lado vencedor" ou do "lado mais forte". Nunca fui assim. Sou atleticano, torcedor do Galo das Minas Gerais, e isso por si só deveria ser prova de que eu não escolho um "lado" por este ser o que vai me proporcionar facilidades ou vitórias.

A dúvida sobre o lado o qual eu me posicionaria nas questões supracitadas, ainda estão presentes pelo simples fato de que, sei, as pessoas seguem um caminho a partir de suas identificações pessoais ou informações sobre um determinado caminho. Como me identificar com os que pediam a morte do Messias? Como me identificar com os algozes da nação de 1964? Acredito que essa possível identificação seja possível, uma vez que existe "informação desinformante" no processo de formação do ser humano.

Nossas percepções de "mundo" são embasadas em informações que recebemos sobre o presente e o passado. E, por sua vez, nossas expectativas, caminhos, escolhas e planos são feitos sobre estas percepções. Para que trilhemos um caminho mal, basta que sejamos uma pessoa mal-informada; seja por ausência de informação (ignorância), ou por termos recebido a tal"informação desinformante". Esta última é aquela que existe com intuito de conduzir as pessoas pelo caminho que escolhem para elas. Quase sempre, são informações que colocam grilhões nos mal-informados, submetendo-os à vontade de seus informantes.

Pouco conhecimento sobre o passado e o presente é perigoso. Bem disse George Santayana: "Aqueles que não conhecem o passado, estão condenados a repeti-lo". Já um conhecimento "desinformante", é ainda mais danoso, pois ele serve para conduzir as pessoas sempre em caminhos contrários ao bem comum aos seres humanos. E este conhecimento desinformante é comum à nossa gente. Nossa gente é aquela que desde 1969, dava "boa noite" para o Cid Moreira ao término do "informativo desinformante" Jornal Nacional - jornal este que manipulava as informações à favor do regime de exceção. É também gente que marchou a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", mesmo sendo esta uma caminhada rumo a outro deus e a menos liberdade. É ainda gente que entregava os "irmãos em Cristo" de suas próprias comunidades, por eles serem adeptos do Evangelho Social. Esta nossa gente criou filhos e netos que, por sua vez, outro dia estavam batendo panelas trajando uniforme verde-amarelo bradando "Fora, Dilma!".

E seu eu tivesse nascido há dois mil anos atrás eu estivesse no julgamento do Filho de Deus e me encontrasse na posição de "mal-informado"? E se durante os anos que antecederam e os que prosseguiram o 31 de março de 1964, eu estivesse informado com desinformação? Poxa vida... Que tragédia seria! Diriam que eu compactuei com os assassinos do Deus encarnado; que eu ajudei a impedir o Brasil tivesse avanços significativos na Educação, tendo Darcy Ribeiro e Paulo Freire como suporte do governo de Jango. Diriam isso a meu respeito.

Talvez você seja uma daquelas pessoas que apoiam tudo o que está acontecendo hoje, 31 de agosto, no Congresso brasileiro. E ainda, talvez, você se defenda dizendo para si mesmo "não me importa o que vão pensar de mim". Porém, eu lhe asseguro: irão lhe chamar de golpista; irão dizer que você apoiou um impedimento ilegítimo; irão dizer ainda que você sabia o que estava fazendo ("informação desinformante"); ou no mínimo dirão que você foi um débil ignorante. Sim, meu contemporâneo. Dirão tudo isso de você.

25 de jan. de 2016

O professor moderno e os professores do século I


Eu não sei bem ao certo como acontece nos outros estados, mas aqui, em Minas Gerais, os policias militares não pagam para andar de ônibus, ao contrário dos professores que não gozam deste benefício. Aqui o policial é respeitado, é "quase" idolatrado por sua história de combate ao crime, é bem remunerado (o que faz com que os concursos para trabalhar na área sejam disputadíssimos, ainda que não haja vocação para a profissão), além de contar com apenas uma greve em sua longa existência. 

Já os professores não são tão prestigiados pela sociedade em geral. São vistos como gente que não foi capaz de estudar o suficiente para passar em outro curso qualquer que lhes dessem maior remuneração. São em sua maioria, muito mal remunerados. E quando vão ás ruas pedir melhores condições salariais e de trabalho, a sociedade reclama do trânsito impedido pelos manifestantes, reclama do fato de seus filhos estarem em casa perturbando em vez de estarem na escola (é creche?). Dizem que os professores deveriam ter escolhido uma profissão que desse dinheiro ao invés de ficarem reclamando de seus salários nas ruas a cada ano que passa.

Na verdade, o tal do professor é uma pessoa que se propôs a trabalhar com vários aspectos da vida humana. Vida humana que lhe chega pela pessoa do aluno. O "aluno" não é aquele "sem luz" como alguns dizem, mas "o menino que se faz discípulo", segundo o dicionário Houaiss. E o professor é alguém interessado não apenas em capacitar o aluno para os afazeres técnicos do trabalho, mas também da vida social como um todo. Paulo Freire foi um professor que expressou isto da seguinte maneira: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". A educação transmitida pelo professor não fica, assim, limitada ao mero ensino da aritmética e do bê-á-bá. Ela é também um meio de transformação social.

Esse tal de professor muito se parece com um cara meio maluco e meio santo que apareceu na Galileia no primeiro século. Ele morava sozinho no deserto, comia mel e gafanhotos, vestia-se com peles de camelo e vivia chamando seus contemporâneos à mudança de mentalidade ("metanoia"). Seu nome era João Batista. Ele também não era muito popular entre seus pares sociais. E não é que o mataram? O primo dele, Jesus Cristo de Nazaré, também era um tipo de professor. Ele, Jesus, depois de bater um papo com seu primo professor, João, ficou apaixonado pela docência, largou a carpintaria e saiu país à fora "pregando" e "ensinando".

Jesus afirmava que seu primo havia lhe preparado o caminho para sua missão de vida, assim como fazem os bons professores que despertam em seus alunos o desejo pela docência. Os alunos de Jesus, por sua vez, não arredavam o pé de suas aulas. Teve um deles que disse que não queria ir embora pra casa, porque aquele era um professor que ensinava coisas que tornavam a vida mais bela.

Jesus ensinou tal qual um professor de História, falando do terrível sistema opressor romano que não dignificava o ser humano. Falou também da importância das cotas em seu tempo, uma vez que os pobres deveriam ter preferência e reparo, dada a desigualdade social. Falou ainda do passado, reinterpretando tudo o que se tinha como "História Oficial", deixando os outros professores de seu tempo de cabelo em pé. A paixão de Cristo pelo ensino foi definida por ele mesmo "ágape", isto é, amava com amor de entrega total. Viveu de doações, porque desde aquela época o tal do professor é mal remunerado.

Certa vez numa passeata com seus alunos pela capital do país, ele questionou todo o sistema propondo que se eles derrubassem aquilo que tinham como base do ensino, em três dias o próprio Jesus faria a maior reforma educacional da história da humanidade. Eles não apenas não aceitaram como também na mesma semana deram cabo em sua vida. Quem a sociedade encarregou de matá-lo? Os policiais militares da época, os soldados romanos. Mas não puderam o calar. Seu modo de ensinar foi tão impactante que seus alunos levaram adiante o que dele aprenderam e, assim, viveram e morreram por aquilo. Levaram com tanta paixão que ainda hoje podemos ouvir ecos do que ensinou aquele professor nazareno do século primeiro.

É bem verdade que alguns não vocacionadas ouviram seus ensinamentos e tentaram tirar proveito e lucrar com aquilo. São conhecidos como maus professores. O primeiro deles foi um tal de Judas. Tiveram outros ao longo da história e ainda hoje professores não vocacionados se prestam a ensinar relaxada e descompromissadamente pessoas famintas pelo saber. Infelizmente, isso gera nos alunos desinteresse, aversão, não-transformação e outros sentimentos ruins pelo estudo. Assim, tudo o que os bons professores, como o professor de Nazaré e o professor Paulo Freire fizeram no passado vai aos poucos caindo no esquecimento. Consequentemente, possíveis vocacionados não vão tendo a oportunidade de encontrar com os bons professores que acendem a centelha da paixão pela docência, como fez o primo de Jesus.

Os futuros bons professores, hoje ainda em forma de alunos, precisam se encontrar com bons professores pelo caminho para que suas vidas realmente sofram uma "metanoia". E, desta maneira, sentir seus corações inflamar pela docência, tornando-se bons professores, que vão às ruas reivindicar por melhores condições e que também vão entrar na sala de aula com a mesma paixão que ensinou o professor de Nazaré. Este último abriu mão de certo prestigio social, de seu negocio próprio, que lhe rendia remuneração financeira maior que a vida de professor. Abriu mão de tudo por amor "ágape" àqueles que faziam sua própria vida fazer sentido: seus muitos alunos que ainda hoje são, por ele, inspirados.

3 de nov. de 2015

Charles Darwin sobre a escravidão


Ao chegar no Brasil e ver de perto a escravidão, Darwin escreveu esse relato:

Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com que esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estive antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar até o mais inferior dos animais. Vi como um garotinho de seis ou sete anos de idade foi golpeado na cabeça com um chicote (antes que eu pudesse intervir) porque me havia servido um copo de água um pouco turva… E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.

"A Viagem do Beagle", Charles Darwin.

Fonte: Jornal Brado Informativo

1 de nov. de 2015

Os cristãos e os Direitos Humanos


Muitas pessoas têm manifestado sua opinião sobre o modo o qual a apresentadora Rachel Sheherazade se dirigiu ao caso do menor infrator preso a um poste. De tudo o que disse a apresentadora, uma me chamou a atenção em especial: "E aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho no poste, lanço uma campanha: Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!" - ipsis litteris.

Em nosso país criou-se a mentalidade de que a lei dos Direitos Humanos (DH) existe para proteger os infratores e não aplicar as devidas penas aos quais achamos serem necessárias. Para estes, alguém cumprindo pena não deveriam ter direitos e facilidades durante seu período de cárcere, antes que fossem usados como mão de obra em construções em geral. Também, muitos políticos são temerosos em defender abertamente uma postura favorável aos DH por saberem que isso irá servir a seus concorrentes durante uma eleição, usando isso contra eles. Em Belo Horizonte, minha cidade, um político o qual eu nutria esperanças de que pudesse ser um bom prefeito, perdeu as eleições pelo simples fato de ter presidido a Comissão dos DH.

Mas afinal, o que são os DH? Eles são os direitos básicos de liberdade de todos os seres humanos. Direitos civis, políticos, culturais, econômicos e sociais individuais e coletivos. Em suma, é o direito de ser igual a todos perante a lei e seus pares. Os ideais dos DH são embasados no conceito filosófico dos direitos naturais, ou jusnaturalista, que foram atribuídos por Deus, segundo alguns defensores desta filosofia. Tais direitos naturais se alinham com a carta de Paulo aos romanos (2:14).

No Brasil os DH afloraram no período da Ditadura Militar, através do trabalho de Dom Paulo Evaristo Arns, do rabino Henry Sobel, pastor presbiteriano Jaime Wright. O trabalho que eles desenvolveram durante a ditadura foi, e é, fundamental para os perseguidos e seus familiares. Seus esforços resultaram no livro Brasil Nunca Mais e também no site, de mesmo nome, que possui registros fotográficos, cópias de processos judiciais dentre outros, que ajudaram a saber o destino de muitos desaparecidos. Podemos ainda dizer que a Comissão da Verdade teve o trabalho de Arns, Sobel e Wright como ponto de início.

Contudo, muitos acreditam que os infratores perderam seus direitos ao cometerem delitos. Acreditam que um preso não pode ter benefícios que auxiliem sua reintegração a sociedade. Somos naturalmente vingativos e temos enorme facilidade em querer que nossos ofensores paguem por seus atos com o máximo de rigidez. Temo que na hipótese de um plebiscito sobre a pena de morte em nosso país, ela seria aprovada com esmagadora maioria de votos.

Sheherazade entende-se como cristã. E muitos que a apoiam neste momento também o são. A estes gostaria de lembrar-lhe que os DH são um reflexo do sacrifício vicarius de Cristo, isto é o sacrifício de substituição por nossos pecados. Segundo as Escrituras "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3:23). E a condenação é: "a alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18:4). Contudo, Deus na pessoa de Jesus Cristo remiu toda a criação (Lc 1:68).

Na cruz Jesus concedeu direitos aos homens que eles haviam perdido diante de sua Lei. Lemos que pecadores eram apedrejados por cometerem delitos. Tudo "em nome de Deus". Em Jesus,os direitos á vida que foram negados passam a ser reconhecidos e reiterados, pois todos os pecados pelo sacrifício de Um, foram perdoados. Somos iguais. Não temos direitos por havermos conquistado algum direito. Temos direitos porque Um não pecador, se entregou por todos nós.

Quando alguém nega os direitos de um semelhante, ele nega também o sacrifício de Jesus. Pois não é por nossos méritos que somos dignos de direitos e, sim, pelo amor de Deus derramado sobre nós ainda hoje através do seu santo Espírito. Parafraseando a carta de João, "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não ROUBEIS; e, se alguém ROUBAR, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 Jo 2:1). Deus adotou todos os bandidos do mundo. Até mesmo o marginalzinho da jornalista.

Os DH conquistados por Cristo na cruz, se posso assim dizê-lo, são irrevogáveis. Pois eu tenho convicção de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura, seja ela a RACHEL SHEHERAZADE ou qualquer outro "cristão", poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. (Rm 8:38-39).

28 de out. de 2015

Um rolezinho pela história nacional


Recentemente houve um surto de "rolezinhos" aos shoppings de algumas capitais brasileiras. Pensei: "Parece que os meninos e meninas aprontaram mais uma vez". E quando é que menino não fez bagunça? Eu mesmo aprontei as minhas e, por certo, você também aprontou as suas. A bagunça que eles aprontaram desta feita está tirando o sono de comerciantes de shoppings centers e de seus respectivos frequentadores que viam ali um lugar seguro e tranquilo - câmeras, segurança, estacionamento vigiado, ar condicionado, etc. - para poderem gastar seu dinheiro. É a vez dos meninos dos "rolezinhos".

Os meninos e meninas, adolescentes, têm marcado pelas redes sociais visitas em massa aos centros de compras que, por sua vez, não querem receber tal público em grande quantidade. Os jovens alegam estarem sendo perseguidos "por serem pobres; da periferia". Os lojistas através da administração dos shoppings se defendem afirmando que tal movimento pretende causar pânico e baderna afugentando, assim, potenciais consumidores. Quem não têm nada haver com a história se manifesta defendendo um lado ou outro com muitas vezes parcos argumentos. Alguns deputados federais já cogitam fazer um sessão especial para debater o caso, ouvi no rádio.

Quem está com a razão neste caso? O tempo dirá. O tempo, isto é a história, sempre tem algo a nos dizer sobre o presente. Os fatos sempre se repetem de tempos em tempos, quase que ciclicamente. E a reação de alguns ao movimento dos adolescentes do "rolezinho" trouxe-me á memória o Brasil pré-Golpe Militar de 64.

Naquele período a publicidade veiculada pela grande mídia fazia alusão a liberdade que a democracia havia trago aos Estados Unidos da América. Em suas propagandas em revistas e jornais o ideal de liberdade era o poder de consumo que o cidadão tinha: quanto maior seu poder para comprar, mais "livre" tal cidadão era. E, assim, o Brasil experimentou uma crescente onda de consumo de produtos importados daquele país. Assim a classe média se distinguia das classes sociais inferiores, consumindo e consumindo.

Com algumas melhorias, poucas, diga-se de passagem, feitas pelo então presidente Jânio Quadros, favorecendo as classes mais baixas da sociedade, tais veículos de comunicação passaram a publicar matérias que destacavam o aumento do poder de compra dos mais pobres do país em detrimento a classe média. As publicações acenderam uma terrível centelha na cabeça da classe média: em breve não poderia se distinguir entre proletariado e a classe média, pois todos poderiam "ser livres", isto é, comprar.

Lembro-me que em minha infância passear no shopping center de minha cidade era algo "chique". Coisa que se fazia com sua melhor roupa e de banho tomado. Comer o sanduíche do palhaço americano? Uma vez por ano. Hoje penso se vou de chinelos ou sandália surrada... O shopping tornou-se ambiente "de qualquer um". Quase todos que moram em capitais costumam ir a tal lugar para comprar, comer ou assistir um filme. O chique virou simplório.

E o que isso tem a ver com o "rolezinho"? Tudo. Existem aqueles que preferem que seja construído um novo ambiente para o periférico cidadão, longe dos consumidores em potencial. "O pobre precisa de um lugar de lazer", ouvi uma opinião sobre o assunto. Chamam isso de inclusão. Ou seria exclusão? Para estes, qual a razão de receber quinhentos, oitocentos, mil jovens que só querem paquerar, reunir sua turma e ouvir sua música em um ambiente "de bacana"? É melhor receber um público menor, mais disposto a gastar uma pequena fortuna em futilidades quaisquer do que receber essa gentinha da sarjeta. Ou não? Um pouquinho pode, um tantão deles nem pensar! Bem vindo a 1964. Outra vez.

4 de dez. de 2012

A Tirania da Maioria


Falar em liberdade numa sociedade democrática como a nossa deveria ser algo como "chover no molhado", uma vez que as escolhas e leis são baseadas no "poder do povo". Numa democracia as pessoas devem ser livres para ir e vir, desde que respeitem os direitos dos outros. Embora seja uma explicação simplista, essa é a ideia.

Estudando Ciência Política no curso de História, me deparei com a teoria de Stuart Mill e Alexis de Tocqueville sobre a "Tirania da Maioria". Mill afirma que "a tirania da maioria é tão odiosa quanto a da minoria" e que a sociedade democrática deveria estar sempre em guarda para que ela não ocorresse. Para Tocqueville a democracia estaria sempre associada ao processo igualitário, onde a diversidade cultural somada à liberdade dos indivíduos com o passar do tempo poderia acarretar numa massificação da cultura, criando uma sociedade de massa, permitindo que se realizasse uma tirania da maioria. 

O temor de Tocqueville era de que a cultura igualitária de uma maioria destruísse as possibilidades de manifestação de minorias ou mesmo de indivíduos diferenciados. O desenvolvimento, portanto, de uma sociedade onde hábitos, valores, etc., fossem de tal forma definidos por uma maioria que quaisquer atividades ou manifestação de ideias que escapassem ao que a massa da população acreditasse ser a normalidade, seriam impedidas de se realizar¹. Em suma, por "Tirania da Maioria" entende-se como o momento onde uma maioria obriga uma minoria a seguir os seus ideais culturais, ideológicos ou religiosos.

Recentemente os evangélicos de nosso país se manifestaram contra a remoção da frase "Deus seja louvado" das cédulas de Real. A "maioria" dos evangélicos é contra a retirada da frase que foi inserida no dinheiro. Ao que tudo indica, a vontade da "maioria" irá prevalecer. Há alguns anos atrás as eleições presidenciais foram decididas pelo voto religioso, que receberam em suas igrejas candidatos que prometiam não legalizar o aborto. E novamente a "maioria" religiosa fez sua vontade ser realizada. Nesse ínterim uma parte dos evangélicos se mobilizou na tentativa de impedir a aprovação da PLC 122/2006, relativa aos direitos homoafetivos, por meio de passeatas em Brasília e através de seus programas de televisão. Por hora, a "maioria" tem vencido a queda de braço.

Me parece que os evangélicos de hoje desconhecem sua própria história recente. Saberiam estes que demonizam a Maçonaria que sem a ajuda dela, não teríamos culto evangélico no Brasil? Que só foi possível a abertura de igrejas evangélicas porque vivemos num Estado laico? Ou ainda, que um dia os evangélicos foram em menor número do que as pessoas seguidoras das religiões afro que, por sua vez, hoje são perseguidos pelos de "maioria"?

Quando o Gondim disse "Deus nos livre de um Brasil evangélico" muitos criticaram sua frase e relativo desgosto com o movimento religioso que mais cresce no país. O "Brasil evangélico" ao qual ele se refere, eu também tenho repulsa. O seguimento religioso que muito se assemelha ao modelo norte-americano de evangelicalismo é danoso a qualquer tipo de Fé. A Fé da televisão, dos grandes shows, das grandes feiras, dos afamados líderes milionários destoando dos mais necessitados que moram nas marquises dos templos suntuosos é lamentável. Mas a "maioria" aplaude de pé.

Na palestina do primeiro século o movimento de Jesus não experimentou o status - moderno - de maioria. Em seus dias, a tirania era da minoria que detinha o poder. Como parte da maioria numérica, Jesus incentivou o serviço ás pessoas e tratou com dignidade os excluídos da sociedade que não tinham força política para terem seus direitos respeitados. Andou com prostitutas, bebeu com ladrões, orava com iletrados, carregou crianças no colo, comia com cobradores de impostos e não tinha medo de ser visto com qualquer tipo de gente "contaminada" - as doenças eram entendidas como punição divina pelo pecado. Nunca obrigou ninguém a sequer segui-lo. Apenas convidava.

Quando os meios de comunicação e mercado se preparam para receber o cada vez maior número de evangélicos que impõe sua Fé e cultura sobre os demais, temo, pois, antevejo o dia em que realmente serão maioria numérica e a "Tirania da Maioria" sobre as minorias seja cada vez mais presente. Essa "tirania" já pode ser sentida. Já se pode sentir seu fétido odor nas câmaras municipais, estaduais e federais. Pensando no que disse o Gondim, faço coro a meu modo: Que Deus nos livre da Maioria que impede as expressões culturais, ideológicas e religiosas das minorias.

¹ - QUIRINO, C. G. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: WEFFORT, F. Os clássicos da política. Vol.2. São Paulo: Ática, 2006. p155.

23 de mar. de 2012

Uma Igreja sincrética

(Primeira celebração cristã realizada no Brasil)

"...[a terra,] querendo aproveitá-la, tudo dará nela, 
por causa das águas que tem."
Pero Vaz de Caminha

A Igreja Brasileira sempre sonhou em ter destaque nacional, aparecer na grande mídia, nos jornais e na televisão. Mas o que temos visto nos últimos dias (anos?) são escândalos envolvendo lideranças e um Evangelho vazio de Cristo sendo pregado em nome de uma vida feliz e facilitada.

O que a Bíblia diz sobre isso?

No Antigo Testamento, Deus aconselhou o povo que acabara de sair do Egito a não se casarem com pessoas de outros povos (Dt 7). Mas a história do povo israelita nos mostra que este conselho foi mal compreendido e muitas vezes desobedecido.

Sansão tomou por mulher uma filha dos filisteus, embora seus pais lhe aconselhassem a não fazê-lo. Salomão casou-se com várias princesas, oriundas de outros povos. Os dois desobedeceram ao conselho do Senhor. Um caso de mal compreensão, lemos no livro de Esdras, que ao retornar com uma parte do povo do exílio, em uma tentativa insana de purificação do povo, abandona as mulheres que não eram da linhagem dos israelitas, juntamente com seus filhos (9-10).

Mas ao quê se deve o fato de Deus ter dado tal conselho, uma vez que uma das bênçãos prometidas ao patriarca Abraão é que através deste povo "serão benditas todas as famílias da terra"? Como ser bênção se não se pode casar, viver, compartilhar da espiritualidade deles e com eles?

Moisés no livro do Deuteronômio aponta para a seguinte resposta:
Como também no deserto, onde vistes que o Senhor vosso Deus nele vos levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar. Dt 1:31
Deus retirou o povo do Egito e passou a dar suporte, como um pai que trata de um filho pequeno. Do alto vinha alimento (Êx 16:35); do seio da terra vinha água (Nm 20:11); o frio noturno e o sol escaldante do deserto não lhes aflingia (Êx 13); nem mesmo o tempo podia lhes deixar nus (Dt 29:5). Isso tudo porque Deus levava uma nação recém nascida, um povo menor do que todos (Dt 7:7). Deus sabia que o povo precisava amadurecer antes de se envolver no cumprimento de sua missão na terra.

No entanto, parece que ao longo dos séculos a Igreja optou por se misturar primeiro, antes de amadurecer, realizando ao decorrer da história um caminho sincrético¹. A Igreja cristã começou com os remanescentes seguidores de Cristo, que após sua ressurreição passaram a divulgar os ideais do reino. As pessoas foram aceitando aquela mensagem e passaram a reorientar suas vidas segundo o que aprendiam. Com o passar dos anos acontece o Primeiro² Grande Evento Sincrético:

- O imperador romano Constantino I, protegido de Hércules³, posteriormente passou a adorar o deus Sol Invicto (que mais tarde teve a data de seu nascimento, 25 de dezembro, utilizada para comemorar o nascimento de Cristo). Em um sonho com uma cruz, Constantino teria ouvido que "através daquele símbolo venceria a batalha". E venceu. Passou então a se declarar cristão e com o passar dos anos o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império. O nome do novo deus era semelhante ao do antigo⁴, o que facilitou o sincretismo do Império.

Quando explodiu a Reforma Protestante, aconteceu o que chamo de Segundo Grande Evento Sincrético:

- Martinho Lutero após a sua série de problemas com o papado devido as suas interpretações das Escrituras, foi expulso da Igreja e do Corpo de Cristo, ao ser excomungado pelo Papa Leão X, no dia 3 de janeiro de 1521, na bula Decet Romanum Pontificem. Restava ao monge alemão se juntar aos que aderiram as suas idéias e de outros reformadores e fundar uma nova igreja. No entanto, Lutero somente implantava suas idéias em países onde o rei se convertia á sua reforma. Isso teve vários motivos, mas o principal talvez seja porque naquela época o clero era sustentado pelo Estado, como ainda acontece com a Igreja da Inglaterra, também conhecida como Anglicana.

Para entender como esse tipo de prática influenciou a espiritualidade brasileira, vamos ao que eu destaco como o Terceiro Grande Evento Sincrético:

- No evento do descobrimento do Brasil a Companhia de Jesus ficou incumbida de catequizar os índios e negros do novo mundo. A Igreja de Roma perdia membros para o grupo dos reformadores e essa foi uma investida para que seu número, leia-se poder, não diminuísse. Esse movimento é conhecido como a Contrarreforma. A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem⁵. Para o índio, converter-se ao cristianismo, significava sobreviver frente a ameaça dos colonizadores. O negro africano trouxe consigo a sua religiosidade e assim como o hebreu primitivo, atribuía a uma gama de divindades as forças da natureza. Com os escravos africanos, o caminho escolhido pela Igreja foi o sincrético: os deuses africanos foram assimilados aos santos católicos por osmose. Com isso, a conversão dos africanos ao cristianismo foi facilitada.

Em nossos dias o sincretismo, que passou pela demonologia evangélica frente aos deuses africanos, chegou até nós em forma de adaptação dos ideais cristãos para que haja um proselitismo facilitado. Há alguns anos atrás, ser evangélico era sinônimo de ser careta, sem graça, mal-vestido, fora de moda, fanático e desinformado. Estes dois últimos ainda permanecem, mas... As coisa mudaram. Está na moda ser crente.

Embora o Cristo tenha demonstrado com sua vida que deveríamos andar na contra-mão do mundo, oferecendo um novo estilo de vida á ser vivido, os cristãos optaram por se adaptar para que o mundo⁶ os aceitasse. Fazem paródia com as músicas de sucesso, cantores fazem falsetes para cantarem com timbre igual aos cantores de sucesso, compram estações de rádio e televisão, constroem mega-igrejas, constroem parques temáticos evangélicos, realizam evento em alto mar ou em hotéis de alto luxo, em suma, esbanjam luxo. Tudo isso em prol de uma tentativa de fazer, novamente, prosélitos em massa.

Podemos observar pessoas pulando de alegria quando aparece algum cantor gospel em um programa badalado, mas as mesmas pessoas não enxergam (por não querer?) que há um interesse financeiro por trás, onde uma rede de TV, dona da gravadora do cantor, quer mostrar seu produto. E algumas vezes dos próprios cantores que cobram taxas altíssimas para comparecem em eventos ou em igrejas. Existem hoje feiras para expor produtos voltados para o público evangélico. Shofar, Arcas da Aliança em miniatura, adesivos para carro, roupas... Ouvi falar de uma grife exclusiva para o seguimento evangélico. Duvido que dure como aquelas do deserto...

Até mesmo a mensagem do Evangelho foi diluída com mensagens de auto-ajuda para que melhor fosse aceita pelos não-adeptos. Os ventos vindos do Norte, leia-se Teologia-norte-americana, se aproveitou a fertilidade de nossas terras, onde "o que planta, nasce", como certificou Pero Vaz de Caminha. Hoje o mercado se move em torno do desejo dos evangélicos. Até mesmo no âmbito político: os cristãos-evangélicos foram o alvo dos candidatos á presidência da República nas últimas eleições. Isso é prova de mudança do reino? Creio que não. Se fosse um sinal do reino veríamos as prisões ficando vazias, as pessoas não mais morando na rua, os muito ricos compartilhando um pouco com os que pouco têm, resumindo veríamos "a justiça [correr] como as águas, e a retidão como o ribeiro perene" (Am 5:24)...

Sincreticamente o mercado está de olho no muito dinheiro que os evangélicos colocam á disposição de seu hedonismo. Bem cantou Zeca Baleiro, quando compôs que o mercado tá de olho é no som que Deus criou. Sincreticamente a nação brasileira vai se gospelficando. Compõe o sincrético corpo evangélico atores pornôs evangélicos, irmãs nas capas de revista masculina, irmãos multi-milionários, políticos envolvidos em causas que não geram transformação do país no reino de Deus e sim numa gospelândia, pastores coligados com o tráfico, etc. E não podemos nos esquecer da produtora que quer lançar filmes pornográficos para crentes. Como disse Ronald Sider, parece que simplesmente não lemos uma boa parte da Bíblia...

Enquanto a Igreja não abandonar essa vil prática, ela será apenas um mero público alvo do mercado e dos homens que querem apenas levar a lã que sai das ovelhas do Bom Pastor. Enquanto não buscar o exemplo do Jesus e parar de agir em conformidade com o pensamento ainda presente no mundo, esta Igreja não será testemunha que Ele a destinou ser. Os malefícios desta prática já podem ser sentidos e irão intensificar ao longos dos anos á medida que os número de cristãos-nominais-evangélicos aumentar. Talvez Ricardo Gondin não tenha exagerado quando disse Deus nos livre de um Brasil evangélico. Nestes moldes faço coro ao Gondin.

Ir na contra-mão pode custar muito a Igreja Evangélica (agora sim com "e" maiúsculo), e talvez até levá-la ao madeiro. Mas é o caminho que Ele trilhou e não pode ser diferente conosco.

¹ - Fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas ou filosóficas.
² - Não cabe aqui falar de todos os eventos sincréticos ocorridos na história do cristianismo.
³ - Hércules é filho do deus Zeus com a mortal Alcmena.
⁴ - Zeus em grego "Ζεύς" (Zeus), Deus em grego "θεός(Theòs).
⁵ - NERUDA, Pablo. In: ROMANO, Ruggiero. Mecanismos da conquista colonial. São Paulo, Perspectiva, 1973, p.13
⁶ - Faço uso da palavra mundo para falar de não-cristãos.

20 de mar. de 2012

A luz do mundo


"[...] do lado esquerdo da tela podemos ver a porta da alma humana. Ela está trancada; suas dobradiças e pregos estão enferrujados; plantas trepadeiras estão presas e entrelaçadas aos seus umbrais, revelando que nunca foi aberta. Um morcego paira sobre ela. Sua soleira está coberta por amoras silvestres, urtigas e grãos inúteis... Cristo se aproxima dela à noite..." John Ruskin, 1854

Via Jayne Rodrigues.

16 de jan. de 2012

Pai Nosso em egípcio antigo


Pai Nosso na antiga língua da Terra do Nilo, no seu estrato hieroglífico.

Transliteração (Manuel de Codage):

pAyw.n it m pt
wn.s wab rn.k yi.s HqAt.k 
im m.iry.k mryt.k m tA 
my m pt di.k n.n mi n ra aqw tp ra nb
Sdi.k r bwt.n mi Sd.n.n rdi wAw 
mtw.k di.k r.n m wSm 
ir nHm.k n.n m bin

Pronúncia*: 

payun yet em pet
uenes wa'eb erenek yeis hekatek
yem yerit meretek em ta mi em pet
dik enen mi enera aqu tep ra neb
shedik er beuten
mi shedienen er di uauen
metuk dik eren em ueshem
ir nehemek enen em bin

*Reconstrução da pronúncia, inexata, feita pelos egiptólogos. A leitura de cada linha é feita a partir da direção do olhar dos animais representados, isto é, da esquerda para a direita (nesta imagem).

14 de out. de 2011

Interpretações bíblicas



"Abolir os livros didáticos não resolveria o problema, seria apenas uma forma de punir um "bode expiatório". O grande erro consiste na maneira como ele é utilizado, pois nada tem de mal em usá-lo se informarmos ao nosso aluno que as visões presentes no livro didático, que é adotado na escola, são interpretações possíveis dentro de um universo de outras interpretações sobre aqueles mesmos temas, porém analisados por outros historiadores e sobre outras perspectivas teóricas e metodológicas." - Keila Carvalho

Releia novamente o texto substituindo:

Livro Didático por Bíblia
Aluno por Ovelha
Escola por Igreja
Historiadores por Teólogos/Pastores/Irmãos.

O leigo na espiritualidade medieval



"Expandiu-se no século XI, entre os fiéis, o costume de solicitar o hábito religioso por ocasião de uma doença grave.

O cronista monástico Orderic Vital nos dá o belo (?) exemplo de Ansolde de Maule, ex-companheiro de armas de Robert Guiscard. Depois de 50 anos de cavalaria, sentindo a morte chegar, dirigiu-se à sua mulher nestes termos: 
'Graciosa irmã e amável esposa Odeline: durante mais de 20 anos, a graça divina nos permitiu viver um com o outro. Eis que chego ao meu fim. Queira eu ou não, estou indo para a morte. Aceita o me desejo de fazer-me monge, de renunciar às pomposas vestimentas do século para revestir o hábito negro do santo pai Bento. Minha dama, liberta-me, eu te peço, das minhas obrigações conjugais, para que livre do fardo das coisas mundanas. eu mereça a honra de receber o hábito e a tonsura monástica.' Com consentimento da esposa, ele pôde realizar seu desejo e foi imediatamente revestido do hábito. Três dias depois, morreu e 'foi enterrado com o Cristo para ressuscitar com ele'.
O fato de morrer com o hábito garantia, efetivamente, uma participação plena e integral nos sufrágios, preces e méritos dos religiosos, com a única condição de renunciar ao casamento e despojar-se das 'honras' e dos bens. Para um leigo, o caminho da salvação passava pela tríplice recusa do poder, do sexo e do dinheiro, o que é a própria negação do seu estado."

VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média Ocidental. 1995.

21 de set. de 2011

O diabo medieval

O professor de História pediu que analisássemos, á partir das aulas, a seguinte imagem:


A representação do diabo na Idade Medieval, em específico no século XIV, é de suma importância para compreender os desdobramentos desta época em que os teólogos determinam como a 'Idade das Trevas'. O monge é quem ataca a figura do diabo que covardemente tenta se defender do sacerdote beneditino (segundo sua caracterização). A figura do diabo foi exaltada com diversos propósitos, sendo dos mais prováveis, a demonização das culturas e religiões greco-germânicas (Poseidon possuía um tridente em suas mãos e as bruxas e os faunos - figuras mítica, que adoravam os espíritos da floresta precisavam ser expurgados da mentalidade medieval). A Igreja Medieval deu ênfase a esta figura para inserir medo nas pessoas (DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente).

Então, somente demonizando as culturas a Igreja Medival poderia fazer prosélitos com o mínimo o possível de sincretismo religioso. No entanto, o diabo era uma figura imponente que inseria medo nas pessoas. Sendo a Igreja a única com poder para combater este inimigo incomum e poderoso, ela ganha status de poder diante do mundo e pode evitar ou permitir as ações desta figura. É um jogo de relações de poder que está em questão na figura do diabo.

Quaisquer semelhanças com o culto prestado em algumas vertentes religiosas, não é mero acaso. É a busca pela dominação do fiel para que este não saia de perto do sacerdote "ungido e poderoso".

26 de ago. de 2011

O indelével déjà vu da Igreja


A História/Tempo é cíclica ou linear? Bom, os gregos compreendiam que o vida era cíclica. E desse modo buscavam explicar a vida. As estações do ano, por exemplo, demonstravam como os deuses regiam o clima, como podemos ver no mito de Deméter que teve sua filha Perséfone raptada e desposada por Hades. O cristianismo por sua vez explica a vida de modo linear: Deus cria o mundo - Deus encarna-se no mundo - Deus põe um fim na história do mundo.

No entanto, como cristãos podemos observar alguns fatos se repetindo ao longo do tempo como guerras, golpes, acordos e desacordos diplomáticos e religiosos, entre outros. Creio que a história é linear e apresenta características cíclicas. É algo como um espiral cônica onde as repetições estão cada vez mais constantes pois a história está se afunilando para um centro, ou um fim. Mas isso é apenas meu pitaco no assunto, e certamente não posso comprovar isso empiricamente.

Levando minha (será que é minha? rs) hipótese adiante observo a Igreja como um organismo vivo sujeito as mesmas implicações dos demais movimentos do mundo, uma vez que ela está dentro dele. Vejo por exemplo a Igreja repetindo os mesmos erros cometidos anteriormente. Entristecido vejo que estamos reinserindo o caráter medieval nas assembleias e discursos.

Há poucos meses fui a um culto uma reunião onde o líder sem fazer utilização da Bíblia citou algumas frases que afirmava conter nas Escrituras, mas na minha não encontrei. Era algo como "Jesus ensinou a determinar, e não a pedir". Após fazer orações de adoração, mandou-nos ficar de pé e fechar os olhos. Em seguida pessoas passando nos corredores exorcizavam as pessoas. E gente que a poucos instantes oravam com olhos cheios de lágrimas clamando a Deus, agora caíam "possuídas" por espíritos malignos. O Diabo é utilizado da mesma forma como foi na Idade Medieval: como uma "arma" para amedrontar as pessoas e em caso de suspeita de "possessão", pessoas passam por torturas psicológicas e físicas.


No quesito dinheiro somos ainda piores do que nossos errantes antepassados religiosos. Muitos religiosos fazem alusão a passagens bíblicas isoladas de seu contexto para colocar o rebanho de Cristo contra a parede. Todo aquele que não dizima está "roubando ao Senhor". O dízimo perdeu seu caráter bíblico (Dt 14:27) e foi transformado como instrumento de barganha com Deus para "receber cem vezes mais". Passagens (como 2 Co 9) passaram a ser mal interpretadas, intencionalmente ou não. Se na Idade Média a intenção do pontífice era construir a Basílica de São Pedro, o interesse de nossos líderes são erguer "ministérios" reconhecidos nacional quiçá internacionalmente. Perdeu-se o caráter de compartilhamento e festa o qual o dízimo neo-testamentário possui.



O sacerdócio universal de todos os crentes (1 Pe 2), que estava na pauta da famosa "95 Teses de Lutero", foi jogado novamente no lixo. Voltamos a mediocridade da dependência de novos papas. A oração feita no silêncio do quarto (Mt 6) perdeu seu valor para a oração feita pelo "ungido" líder espiritual. A necessidade de ter algum representante de Deus, um novo intermediador, fatalmente têm criado uma geração de crentes definhados espiritualmente, tal qual uma criança a qual não é ensinada a andar e atrofia os músculos.



Lutero e outros reformadores lutavam para que as Escrituras fosse colocada acima do Dogma, que na Igreja Medieval andava lado a lado. Repetindo a história foi reinserido "algo" para andar em pé de igualdade com a Bíblia: "a revelação do Espírito". Por mais de uma vez presenciei pastores locutores afirmarem que o que estavam ensinando não estava na Bíblia, mas que "o Espírito havia revelado". Creio o que Deus tem nos dizer a seu respeito já está na Bíblia. Qualquer "nova revelação", creio, seria para uso exclusivo do ouvinte, e não a todos, pois se fosse a todos estaria na Bíblia e não em revelações isoladas. Micro revelações, são até aceitáveis, macros não creio... A Bíblia volta a ter um concorrente de peso, uma vez que é um concorrente respaldado por exegeses de fundo de quintal.

Posso estar muito equivocado em minha hipotética opinião á cerca da história cíclica-cônica. Mas é fato que estão reinserindo a mentalidade Medieval na Igreja de Cristo. Já existem neo-pré-reformadores. Existem ainda aqueles que já criticam a intenção destes e apontam novos caminhos como solução para esta nova Idade das Trevas.

Desejo que cada um de nós faça um revisão de sua vida. Que reveja seus conceitos bíblicos e se for preciso, leia a Bíblia novamente buscando o Cristo, desde Bereshit (no princípio) até Pantōs (todos juntos), orando para que não repitamos os mesmos erros.

19 de ago. de 2011

A civilização que imaginou Auschwitz


Estudar o nazismo não é a mesma coisa que estudar outro período histórico qualquer. Sem compreendermos este fenômeno nunca poderemos compreender o que foi o século XX. Mais: temos de saber que foi no mesmo país em que nasceu Bach que se imaginou Auschwitz, e que enquanto matavam judeus nos campos ouviam as suas composições para piano e faziam-no em nome da cultura alemã. Auschwitz foi construído em nome da civilização e contra uma suposta barbárie. Os nazis estavam convencidos de que eles é que eram os bons, os “decentes”. Himmler sempre utilizou essa linguagem, pois pedia aos seus homens para aguentarem esse trabalho “tão duro” que era o do assassínio em massa e, ao mesmo tempo, não se deixarem contaminar e manterem a sua “decência”. Auschwitz não foi um acidente, não foi apenas um excesso do nazismo, Auschwitz interroga-nos sobre o carácter da cultura e da modernidade. Auschwitz obriga-nos a pensar que temos de estar sempre conscientes de que a nossa capacidade para mudar o mundo e o poderio que nos dão as tecnologias têm de ser sempre balizados por referências morais muito fortes que evitem que a técnica sem moral conduza ao utilitarismo. Em Auschwitz escondem-se, condensam-se, todas as contradições das nossas sociedades modernas. Até a ideia de progresso, pois um médico como Mengele não se via como um criminoso, mas como alguém que procurava fazer avançar a ciência, que queria perceber as raízes biológicas dos comportamentos humanos e o fazia pelo método experimental.”
Ferran Gallego, historiador e autor do livro ‘Os Homens do Fuhrer: A Elite do Nacional-Socialismo 1919-1945‘ (Esfera dos Livros), em entrevista ao Ípsilon, edição de 12 de Fevereiro de 2010.

5 de ago. de 2011

Teologia tupiniquim entre projeto e repetição


por Hermes Santos

A teologia sul-americana, quando ganhou consciência de si no século XX, tendeu a se constituir em torno de um eixo: o da política. As condições sociopolíticas e econômicas de fins dos anos 50 e década de 60 em diante permitiram a forja de um pensamento teológico de expressão sul-americana que se perguntou pelas possibilidades concretas de realização do Reino de Deus, não obstante o uso de categorias da filosofia política marxista, tomadas de empréstimo da teologia política europeia. Nasceu, então, a chamada "teologia da libertação" que, confrontada com os seus semelhantes em contexto africano e norte-americano (da emancipação da mulher e do negro), passou a se definir como "teologia da libertação latino-americana".

A TdL assimilou, do marxismo, sobretudo as categorias de "práxis", "trabalho alienado", "superestrutura", dentre outras; da disciplina da sociologia, buscou os métodos analíticos e sua pretensão de cientificidade asséptica. Em poucas ocasiões, o emprego do método sociológico produziu análise aprofundada dos fenômenos correntes na América Latina. A exceção mais notável terá sido a presente nos trabalhos de José Míguez Bonino, teológo da libertação que teve maior penetração dialógica no mundo intelectual norte-americano e europeu depois de Gustavo Gutiérrez. No Brasil, os dois nomes mais influentes foram os dos católicos: a) Leonardo Boff, cujos desenvolvimentos cristológicos e soteriológicos lhe trouxeram a vigilância mais acirrada da cúria romana, e; b) Clodovis Boff, que assumiu a tarefa epistemológica de pensar a razoabilidade do discurso da TdL. Por sua penetração imediata na vida da igreja católica, através das CEB's, a TdL mostrou-se um discurso carregado de vitalidade e capaz de insuflar nos meios populares questões que, antes, refugiavam-se nas escolas de teologia. Agora, a teologia assumiu sua dimensão prática como razão de ser; tornou-se eminentemente pastoral. Entre os protestantes, sobretudo no Brasil, a TdL ainda permanece marginal, vista com enorme desconfiança pelas lideranças evangélicas. Luteranos e metodistas, em especial, têm se prodigalizado na reflexão e pastoral libertárias, em diálogo permanente com os católicos (teólogos e leigos).

A partir da década de 80, com as objeções metodológicas e pastorais vindas de todos os lados - no catolicismo, com a repressão dura da cúria através dos processos eclesiásticos de cassação da licença docente ("venia docendi") de alguns teólogos, como L. Boff, por ex. - , assim como o desenvolvimento econômico de algumas nações latino-americanas (Brasil, Argentina e Chile) e o fim das principais ditaduras de direita no continente, o discurso buscou refinamento, evitando a exposição da realidade sociopolítica pelo viés maniqueísta de outrora.

Décadas depois, ainda é possível afirmar que a TdL lançou raízes mais longas, resistindo nas várias pastorais da igreja católica e das igrejas protestantes (metodistas e luteranas); porém, sua vitalidade teórica diminuiu consideravelmente. Assim que, as supramencionadas figuras mais pródigas da TdL, no Brasil, Leonardo Boff e Clodovis Boff tomaram direções quase mesmo antagônicas em relação a suas posições iniciais. Leonardo Boff, excomungado pela Sagrada Congregação para Doutrina da Fé (antigo Tribunal do Santo Ofício), sob a chefia do então cardeal Josef Ratzinger (hoje, Papa Bento XVI), agora atua como professor de Ética na UERJ, tem concentrado seus esforços na tarefa ecumênica e na discussão ecológica e, ainda que sugira vez ou outra a interdependência dos temas, não consegue convencer disso seu público. Clódovis Boff, por seu turno, deu uma guinada ainda mais radical, ao que parece, ao revelar o que considerou "erros" de ênfase da TdL, sobretudo seu compromisso com o marxismo como instrumento analítico de leitura da realidade. Sua guinada conservadora, associada à falta de intelectuais mais jovens capazes de defender as premissas básicas da TdL trouxeram ao movimento uma sensação de quase-orfandade - ainda que aqui e ali, algum nome, como o de João Batista Libâneo, jesuíta, prof. de teologia na FAJE (Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia), em MG, insista numa certa "efervescência" no interior dessa corrente teológica -, além de esvaziamento.

Se a TdL ainda pretende representar uma legítima expressão teológica latino-americana e ou tupiniquim, precisa, antes de tudo, se reinventar, repropor-se, convencer a geração atual de sua relevância para as igrejas cristãs e para a sociedade não-cristã, secularizada e plural. Nesse processo de reinvenção, precisa definir se se repete - e, com isso, repetir também os ecos de seus empréstimos da teologia política europeia -, mas, com isso, perde relevância; ou se se assume como projeto e, nesse sentido, como "fazer a caminho", como se disse tantas vezes.

No ambiente protestante evangelical brasileiro, ganhou expressão a chamada "teologia da missão integral" que, sem assumir a polarização político-ideológica, preconizou o compromisso duplo da missão cristã como meios de realização do Reino: evangelização e intervenção social. Os documentos produzidos nos Congressos internacionais de evangelização, sobretudo no Primeiro de Lausanne (Suíça), de 1974, intitulado "Pacto de Lausanne" definiu as estratégias dos evangelicais para alcançar o mundo carente de Deus com a proclamação cristã e a o trabalho social. A Teologia da Missão Integral compartilha com a TdL seu interesse prático; assim que, não houve até hoje esforço consistente da parte de teólogos do movimento com vistas à produção de textos dogmáticos densos que explicitem a posição daqueles que subscreveram o "Pacto". Por ocasião do 3. Congresso na Cidade do Cabo em outubro de 2010, líderes vinculados ao movimento como o pastor, escritor e conferencista John Sott e o evangelista e escritor Billy Graham enviaram saudações aos presentes que, elaboraram, ali, uma Confissão de Fé e outros documentos reveladores de propósitos e definidores de agenda. A pluralidade do movimento, entretanto, além de certa resistência ao unilateralismo dogmático, impedem elaboração de uma teologia consistente do movimento, fora das expressôes locais.

14 de jun. de 2011

Documentos mostram evangélicos nos porões da ditadura


por Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)

Torturados e delatores da grei evangélica brasileira ganham visibilidade nos documentos que o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) repatriará oficialmente ao Brasil na quarta-feira, 14, entregando 1 milhão de páginas microfilmadas que estavam no Center for Research Libraries, de Chicago, e 10 mil páginas inéditas da correspondência entre o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e o pastor presbiteriano unido, James Wright.

A revista semanal IstoÉ antecipou, na semana passada, histórias de evangélicos entrevistando pastores e líderes evangélicos que passaram pelo pau de arara e aqueles que os conduziram até os porões da ditadura, nos Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis, comentou ao repórter Rodrigo Cardoso o antropólogo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, de origem presbiteriana, preso antes do golpe, em 1962, por participar do movimento estudantil.

“Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, disse Fernandes, considerado “elemento perigoso” por pastores que o incluíram numa lista entregue aos militares, depois do golpe.

O pastor batista Roberto Pontuschka, capelão militar, torturava presos à noite e de dia distribuía porções do Novo Testamento aos detentos nas dependências da Operação Bandeirantes (Oban), de São Paulo. Com 21 anos à época, o então seminarista da Igreja Presbiteriana Independente e hoje teólogo e professor de ciências da religião na Umesp, Leonildo Silveira Campos, preso por dez dias pela Oban, em 1969, não esqueceu o método evangelístico do pastor Pontuschka.

Pai de quatro filhos, Anivaldo Padilha, 71 anos, só veio a conhecer o seu filho Alexandre, hoje ministro da Saúde do governo da presidenta Dilma Rousseff, aos oito anos de idade. Em mais de 20 dias de tortura, em fevereiro e março de 1970, no DOI-Codi de São Paulo, o então estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo, com 29 anos de idade e ligado à Igreja Metodista, chegou a pensar em suicídio. Libertado depois de dez meses de prisão, Anivaldo partiu para o exílio, de 13 anos, no Uruguai, Suíça e Estados Unidos.

“Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços” relatou Anivaldo ao repórter da IstoÉ. Ele descobriu seus delatores há cinco anos, ao ter acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações. Quem o delatou foram o pastor José Sucasas Jr. e o bispo Isaías Fernandes Sucasas, da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais Anivaldo era subordinado.

Nos anos de chumbo, controlados pelos militares, pedir justiça aos excluídos, defender a reforma agrária e manifestar preocupações sociais eram coisas de comunistas, apoiados pelo movimento ecumênico.

“Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, contou à IstoÉ o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU).

Dos 54 estudantes matriculados no seminário teológico de Campinas, 39 foram expulsos em 1967. No mesmo ano, a Igreja Metodista fechou a Faculdade de Teologia de São Paulo e expulsou estudantes e professores. O pastor Boanerges Ribeiro, presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), promoveu uma “depuração interna” na igreja em 1965. A Igreja Presbiteriana Independente (IPI) expulsou dez seminaristas em 1968.

Dois anos depois, a Federação Luterana Mundial cancelou assembléia geral que realizaria em Porto Alegre porque, entre outros motivos, a igreja brasileira convidara o presidente da República, general Emília Garrastazu Médici, para a abertura do evento. Líderes luteranos negavam, então, a existência de práticas de tortura no Brasil.

Vários evangélicos colaboraram com a máquina repressora da ditadura, delataram irmãos e assumiram o discurso do anticomunismo como a salvação do Brasil.  “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, confessou Padilha.

Nesses anos todos, Padilha descobriu, depois de se deparar casualmente, em festa de Carnaval, com um de seus torturadores, que o perdão é libertador.

"O perdão, para mim, foi uma forma de exorcizar os demônios das torturas que me causaram pesadelos durante quase seis anos. Há situações em que o perdão é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado. No entanto, isso não significa que eu acho que os torturadores, seus mandantes e colaboradores não devam ser punidos. A punição deles é importante para resgatar a dignidade dos que foram torturados, da memória dos assassinados, das famílias que não puderam ainda sepultar seus membros desaparecido. Além disso, a impunidade contribui para que a tortura ainda seja praticada em larga escala nas delegacias e prisões brasileiras. Em suma, a punição representaria o resgate da dignidade da sociedade brasileira que foi violentada por um regime autoritário", afirmou o metodista.

Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright serão lembrados no ato de repatriação dos documentos que estão de posse do CMI, que terá lugar em São Paulo, amanhã, na Procuradoria Regional da República. Eles foram os grandes articuladores do Projeto Brasil Nunca Mais.

O projeto Brasil Nunca Mais teve início em plena ditadura militar (1964-1985), quando grupo de religiosos e advogados tentou obter, junto ao Superior Tribunal Militar (STM), informações e evidências de violações aos direitos humanos, praticadas por agentes do aparato repressivo. Do projeto originou-se o livro com o mesmo nome – uma compilação com cerca de 5% de toda a documentação levantada no STM.

Os mentores do projeto – em especial a advogada Eny Raimundo Moreira e a equipe do escritório Sobral Pinto – perceberam que os processos poderiam ser reproduzidos, aproveitando-se do prazo de 24 horas facultado pelo Tribunal de retirada dos autos para consulta.

A ideia foi acolhida por Jaime Wright e dom Paulo, que resolveram comandar as atividades a partir de São Paulo. Os recursos financeiros para o projeto foram obtidos com o secretário-geral do CMI.

As cópias dos processos eram remetidas de Brasília a São Paulo. Diante da preocupação com a apreensão do material, a alternativa encontrada foi microfilmar as páginas e remeter os filmes ao exterior.

Após seis anos de trabalho em sigilo, a tarefa foi finalizada, com a reprodução de 707 processos, totalizando cerca de um milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilme. Foi produzido, ainda, um documento-mãe denominado "Projeto A", com a análise e a catalogação das informações constantes dos autos dos processos judiciais em 6.891 páginas dividas em 12 volumes.

Considerando a dificuldade de leitura e até de manuseio deste trabalho, foi idealizada a confecção de um livro que resumisse o documento-mãe em um espaço 95% menor. Para operacionalizar a tarefa, foram escolhidos os jornalistas Ricardo Kotscho e Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto), coordenados por Paulo de Tarso Vannuchi.

Em 15 de julho de 1985, quatro meses após a retomada do regime democrático, foi lançado o livro "Brasil: Nunca Mais", pela Editora Vozes, publicação que mereceu destaque na imprensa nacional e internacional. O livro foi reimpresso 20 vezes somente nos seus dois primeiros anos. Atualmente, ele está na 37ª edição (2009).

Fonte: CEBI

25 de mai. de 2011

A oração de Matthew Henry


Matthew Henry é um conhecido especialista em estudos bíblicos. Certa vez, quando voltava da Universidade onde leciona, foi assaltado. Naquela noite, ele escreveu a seguinte prece:

"Quero agradecer
em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes.

Em segundo lugar,
porque levaram a minha carteira, e deixaram a minha vida.

Em terceiro lugar,
porque, mesmo que tenham levado tudo, não era muito.

Finalmente, quero agradecer
porque eu fui aquele que foi roubado, e não aquele que roubou."

Fonte: G1.com

27 de abr. de 2011

Graça em um Quaker


Isso me faz lembrar um quáquer¹ que tinha uma vaca teimosa. A hora da ordenha sempre era um choque entre duas vontades. Naquela manhã em particular, ela estava irritada de maneira incomum, mas ele estava determinado a passar pela sessão sem muito entrevero. Quando um fazendeiro começou a ordenhá-la, a velha Madona pisou no pé dele com toda a força. Ele lutou silenciosamente, resmungou um pouco para si mesmo, liberou seu pé e então se sentou no banquinho de novo.

Ela, então, balançou o rabo bem no rosto dele, como um longo chicote de pêlos. Ele simplesmente  se inclinou para trás de modo que a cauda não pudesse alcançá-lo. A seguir, ela chutou o balde que, naquele momento, estava até a metade de leite morno. O fazendeiro começou tudo de novo, resmungando algumas palavras para si mesmo, sem nunca perder a calma.

Ao terminar a ordenha, deu um profundo suspiro de alívio, pegou o balde e o banquinho e, quando estava saindo, ela deu um passo para trás e deu-lhe um coice que o jogou contra a parede do celeiro, a três ou quatro metros de distância.

Aquilo foi o suficiente. Ele se levantou, marchou até a vaca, olhou bem para aqueles grandes olhos e, enquanto chacoalhava um dedo longo e magro diante dela, gritou: "Tu sabes que sou um quáquer. Tu também sabes que não posso revidar... MAS POSSO VENDER-TE A UM PRESBITERIANO²!".

Extraído de O Despertar da Graça, de Charles R. Swindoll.

¹ Quaker (também denomidado quacre, ou quáquer) é o nome dado a vários grupos religiosos, com origem comum num movimento protestante britânico do século XVII. Os quakers são chamados também de Sociedade Religiosa dos Amigos (em inglês: Religious Society of Friends), ou simplesmente Sociedade dos Amigos ou Amigos. Eles são conhecidos pela defesa do PACIFISMO e da SIMPLICIDADE. Estima-se que haja 360.000 quakers no mundo, sendo a maior parte da África; o Quênia tem a maior comunidade quaker. (Fonte: http://fwccworld.org/find_friends/map.shtml)

² A história do movimento presbiteriano é cercado de episódios de luta pela liberdade de exercício da fé. O episódio mais sangrento foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572), na França (embora hajam controvérsias sobre a participação destes nos conflitos). E também na guerra da Revolução Americana, os presbiterianos tiveram uma atuação destacada. (Fonte: Igreja Presbiteriana do Brasil)

15 de mar. de 2011

Rabia al Adawiya al Qadsiyya


"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno; se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso. Mas se eu te adorar pelo que Tu és, não escondas de mim a Tua face. " - Rabia al Adawiya al Qadsiyya

Essa frase foi cunhada por volta do ano 800 d.C., e por mais bela e cheia de verdade que seja, não provém de um seguidor de Cristo. Rabia, conhecida também como Rabia de Basra, viveu uma infância humilde (alguns crêem que foi escrava), e também não teria conhecido seus pais.

Muçulmana ferrenha, decidiu seguir uma vida de auto-negação, preferindo seguir uma vida de contemplação a Allah. Algo que muitos cristãos de nossos dias tem dificuldade de fazer em relação a Yahweh, Deus. Quantos querem abrir mão das benevolências de Deus para apenas contemplar a beleza do Criador, Salvador e cosumador da nossa fé?

Quantos de nós conseguem fazer a "oração silenciosa"* e despretensiosa de Madre Teresa de Calcutá? E o que dizer das observações de Mahatma Gandhi sobre os cristãos: "Ó! Eu não rejeito seu Cristo. Eu amo seu Cristo. Apenas creio que muitos de vocês cristãos são bem diferentes do vosso Cristo."; "Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia.".

"Contra provas não há argumentos". O que dizer? Na Bíblia encontraríamos resposta ou um profecia sequer nos alertando sobre isso? Algum profeta ou mesmo um apóstolo? O próprio Cristo falou sobre isso:
"Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz." Lucas 16:8
*Certa vez perguntaram a Madre Teresa o que ela tanto falava com Deus em oração, pois gastava horas em comunhão. Ela respondeu: "Não falo nada, apenas escuto", então lhe perguntaram: "E o que Deus fala com a senhora todo este tempo?", ela respondeu: "Não fala nada, Ele apenas escuta.".
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