(Imagem: perfil oficial do cantor Leoni)
Em março deste ano, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) publicou um pronunciamento se opondo à "espetacularização" das atividades da Força Tarefa da Lava Jato, criticando a forma "midiática" e "teatral" com a qual seus representantes conduziam as investigações. O pronunciamento recebeu grande apoio de outras instituições e de pessoas que compartilham da mesma percepção. Contudo, houve também certo número de pessoas que criticaram a IPU, acusando-a de estar "a serviço do Partido dos Trabalhadores" e de que suas opiniões não seriam norteadas pela Bíblia (Gospel Prime).
O site "Gospel Prime", ligado ao pastor Silas Malafaia, manifestou sua opinião na época da publicação do pronunciamento da IPU, dizendo que a igreja "como lhe é peculiar, emitiu um parecer onde o princípio norteador não é a Bíblia, mas a ideologia simpática ao socialismo que permeia seus ensinos" (sic). O site ainda afirma outras inverdades como "a Igreja condena os delatores, mas ignora que a maioria dos políticos presos são do PT e de partidos aliados". Basta ler o pronunciamento para ver quão tendenciosa foi a publicação do site "Gospel Prime".
Entretanto, o teor do nono pronunciamento da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil é o de defesa do estado democrático de direito, que busca "garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma proteção jurídica". O Conselho Coordenador da IPU pediu "cautela" para que nenhuma injustiça fosse cometida. Em seu nono parágrafo, afirmou:
"Justiça a qualquer preço é justiçamento e, como tal, não há nenhuma diferença entre levar qualquer investigado preso, mediante condução coercitiva, sem a devida intimação judicial prévia, quanto linchar um pobre jovem negro transgressor e amarrá-lo em um poste, em praça pública, buscando fazer 'justiça com as próprias mãos'."
Na manhã deste 16 de dezembro, o pastor Silas Malafaia foi "alvo de condução coercitiva em caso de corrupção em royalties" (O Globo). Malafaia se defendeu das acusações questionando: "Não poderia ter sido convidado para depor?" (Twitter).
Sim, Malafaia. Acredito que poderiam ter lhe convidado para depor. É exatamente esse o problema que o nono pronunciamento da IPU denunciou. Ontem um ex-presidente, hoje um pastor, amanhã qualquer cidadão poderá ser conduzido coercitivamente sem aviso prévio. É contra um novo "1964" que os presbiterianos unidos do Brasil se pronunciaram. É contra o exercício de um estado de cerceamento judicial, onde os direitos dos cidadãos não são respeitados que se pronunciaram os membros da comunidade que você atacou através de suas mídias virtuais.
"Como lhe é peculiar" inicia uma acusação o "Gospel Prime". Sim, Malafaia. É peculiar à IPU sofrer injustiças. É peculiar à IPU não se calar diante das injustiças sociais para que todos, "sejam cristãos, seguidores de tradições religiosas não cristãs e os sem religião – tenham direito a viver em um país sob o império do estado de Direito, da justiça e da ética, sem distinção de classes, credos, raças ou qualquer outro padrão social convencionado" (§ 1º, Nono Pronunciamento da IPU). Muita coisa é "peculiar à IPU". Porém, jamais foi "peculiar à IPU" manter-se omissa às injustiças que ocorrem ao nosso redor.
Por fim, Malafaia, lutar pela justiça não é "coisa de petista". É coisa de seguidor de Jesus de Nazaré.
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