Muitas pessoas têm manifestado sua opinião sobre o modo o qual a apresentadora Rachel Sheherazade se dirigiu ao caso do menor infrator preso a um poste. De tudo o que disse a apresentadora, uma me chamou a atenção em especial: "E aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho no poste, lanço uma campanha: Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!" - ipsis litteris.
Em nosso país criou-se a mentalidade de que a lei dos Direitos Humanos (DH) existe para proteger os infratores e não aplicar as devidas penas aos quais achamos serem necessárias. Para estes, alguém cumprindo pena não deveriam ter direitos e facilidades durante seu período de cárcere, antes que fossem usados como mão de obra em construções em geral. Também, muitos políticos são temerosos em defender abertamente uma postura favorável aos DH por saberem que isso irá servir a seus concorrentes durante uma eleição, usando isso contra eles. Em Belo Horizonte, minha cidade, um político o qual eu nutria esperanças de que pudesse ser um bom prefeito, perdeu as eleições pelo simples fato de ter presidido a Comissão dos DH.
Mas afinal, o que são os DH? Eles são os direitos básicos de liberdade de todos os seres humanos. Direitos civis, políticos, culturais, econômicos e sociais individuais e coletivos. Em suma, é o direito de ser igual a todos perante a lei e seus pares. Os ideais dos DH são embasados no conceito filosófico dos direitos naturais, ou jusnaturalista, que foram atribuídos por Deus, segundo alguns defensores desta filosofia. Tais direitos naturais se alinham com a carta de Paulo aos romanos (2:14).
No Brasil os DH afloraram no período da Ditadura Militar, através do trabalho de Dom Paulo Evaristo Arns, do rabino Henry Sobel, pastor presbiteriano Jaime Wright. O trabalho que eles desenvolveram durante a ditadura foi, e é, fundamental para os perseguidos e seus familiares. Seus esforços resultaram no livro Brasil Nunca Mais e também no site, de mesmo nome, que possui registros fotográficos, cópias de processos judiciais dentre outros, que ajudaram a saber o destino de muitos desaparecidos. Podemos ainda dizer que a Comissão da Verdade teve o trabalho de Arns, Sobel e Wright como ponto de início.
Contudo, muitos acreditam que os infratores perderam seus direitos ao cometerem delitos. Acreditam que um preso não pode ter benefícios que auxiliem sua reintegração a sociedade. Somos naturalmente vingativos e temos enorme facilidade em querer que nossos ofensores paguem por seus atos com o máximo de rigidez. Temo que na hipótese de um plebiscito sobre a pena de morte em nosso país, ela seria aprovada com esmagadora maioria de votos.
Sheherazade entende-se como cristã. E muitos que a apoiam neste momento também o são. A estes gostaria de lembrar-lhe que os DH são um reflexo do sacrifício vicarius de Cristo, isto é o sacrifício de substituição por nossos pecados. Segundo as Escrituras "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3:23). E a condenação é: "a alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18:4). Contudo, Deus na pessoa de Jesus Cristo remiu toda a criação (Lc 1:68).
Na cruz Jesus concedeu direitos aos homens que eles haviam perdido diante de sua Lei. Lemos que pecadores eram apedrejados por cometerem delitos. Tudo "em nome de Deus". Em Jesus,os direitos á vida que foram negados passam a ser reconhecidos e reiterados, pois todos os pecados pelo sacrifício de Um, foram perdoados. Somos iguais. Não temos direitos por havermos conquistado algum direito. Temos direitos porque Um não pecador, se entregou por todos nós.
Quando alguém nega os direitos de um semelhante, ele nega também o sacrifício de Jesus. Pois não é por nossos méritos que somos dignos de direitos e, sim, pelo amor de Deus derramado sobre nós ainda hoje através do seu santo Espírito. Parafraseando a carta de João, "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não ROUBEIS; e, se alguém ROUBAR, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 Jo 2:1). Deus adotou todos os bandidos do mundo. Até mesmo o marginalzinho da jornalista.
Os DH conquistados por Cristo na cruz, se posso assim dizê-lo, são irrevogáveis. Pois eu tenho convicção de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura, seja ela a RACHEL SHEHERAZADE ou qualquer outro "cristão", poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. (Rm 8:38-39).
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