Frases

14 de mar. de 2013

A melodia do silêncio


Até que ponto a vida real se mistura com a vida virtual?

A mais ou menos uns cinco anos atrás me interessei por blogs. Na época meu desejo era que eu e minha esposa postássemos reflexões do cotidiano de um casal cristão. Não funcionou, pois ela entendia que precisaria se dedicar muito para que a coisa ficasse legal.

Quando estava próximo do fim do curso de Teologia, aposentei o antigo blog e dei início a este. Olhando para trás cheguei à conclusão de que este espaço nasceu á partir da minha necessidade de falar. Necessidade de dar voz as coisas que penso, acredito e, também, coisas que tenho dúvidas. Muitas foram as inquietações que me levaram a passar horas digitando para escrever um ou dois parágrafos. E sempre tive prazer nisso.

Atualmente o blog passa por uma crise que também é minha. O anseio por silêncio que minha alma pede, vem calando o blog dia após dia. A vontade de ir para dentro de mim e me trancar com minhas frustrações, dores, lamentações, decepções - só Deus sabe quantas foram - e dúvidas, levam-me a querer ouvir o silêncio que conforta e faz pensar. É momento de pensar e repensar.

Minha decisão de não exercer a função pastoral em minha antiga comunidade de fé e, por conseguinte, a pertencer a uma igreja, era algo que eu precisava fazer. Por mais que sofresse com o distanciamento de irmãos tão queridos, foi preciso fazê-lo. Ver algumas coisas e manter-me em silêncio de maneira passiva estava adoecendo a minha fé.

Minhas inquietações e escritos foram se tornando duras, carrancudas e em muitas as vezes me fiz um desalmado sem misericórdia quando tratei de alguns assuntos. E o que mais me entristeceu foi constatar que postagens que geram confusão são as mais vistas, curtidas, compartilhadas e propagadas. O blog que antes tinha uma pitada de humor passou a alimentar o ódio leviano de uma parcela de cristãos que precisam de apenas uma gota d'água para fazer um oceano de rancor.

Este não sou eu. Este não é meu blog. Este não é o cara que quero ser. Este não é o pastor que quero me tornar. Não!

Ultimamente tenho optado por não ouvir música quando estou só no carro indo para o trabalho. Tenho preferido o silêncio da casa vazia de manhã quando estou me arrumando para sair. Tenho preferido não ler no banheiro. Tenho buscado a melodia do silêncio que poeticamente enche-me o coração.

Afastar-me da comunidade de fé e de burburinhos de alguns blogs que arrastam multidões na Internet ao falarem dos muitos erros de outros cristãos tem me feito muito bem. Tão bem que não faço questão de dizer que o "Marco Feliciano não me representa".

Há uma paz no afastamento de confusões que não posso explicar apenas com um texto. Mas não me darei o trabalho para escrever sobre isso. É meu momento de desconectar de tudo. Alienar-me? Jamais! Apenas deixar o rio seguir seu curso. É na melodia do silêncio que como o salmista eu encontro minha cura nos braços do Criador (Sl 131).

E assim o blog vai experimentando um silêncio digital em sua alma, isto é, eu. Sim, eu sou a alma por detrás disso. Os defeitos aqui percebidos tem CEP e CPF. Tem rosto e cabelo (a maioria, pelo menos). Tem medos, anseios, dúvidas e um tanto de perguntas sem respostas. E enquanto a minha vida real pedir por este tempo de ausência eclesial e virtual, o blog também irá permanecer assim. Um beijo á todos que tiveram paciência de ler até esta linha.
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