Frases

22 de mar. de 2013

Quarta-décima quarta semanas


Sim, continuo desigrejado. Por que não falo mais sobre isso? Simples. O silêncio é o melhor remédio para quem está vivendo esta fase da Fé. Mas que não se confunda o silêncio que leva á reflexão com apatia. O segundo só leva ao distanciamento do Deus da Fé.

Tenho feito muitas coisas que antes não dava para fazer. Coisas simples, como fazer viagens curtas ou ir à casa dos meus pais no domingo na "hora do culto". Tenho ainda saído para jantar com amigos ou apenas com minha esposa. E tem sido bom. Se há algo da qual não sinto falta alguma é da obrigação de estar no culto. Sinceramente muitas vezes fui "obrigado" a não faltar para que as pessoas não me tomassem como um mau exemplo. Para alguns faltar ao culto é quase um crime. Como chegamos á isso? 

É lamentável que tenham preenchido a semana do cristão evangélico com tantas atividades distribuídas em eventos, congressos e reuniões infindáveis. Não acho que estas atividades sejam ruins, mas penso que seja ruim a quantidade massiva de vezes em que a Máquina Ministerial impõe aos membros de estarem em seus eventos. Não deveria ser assim. As reuniões de culto deveriam não ser prolongadas e tão pouco repetidas durante toda a semana. Se o cristão é o sal do mundo, ele é o único sal que permanece no saleiro por imposição das mãos que seguram o saleiro.

Tenho observado que por não haver um compromisso fixo, como o culto dominical, por exemplo, a semana parece ter pouco sentido. É muito fácil ter os dias e as horas preenchidas com atividades de trabalho, estudo e lazer. É como uma criança que não estimulada á leitura, prefere assistir TV a ler um bom livro. A TV já trás tudo mastigado. Não se precisa pensar e construir o mundo sugerido pelos livros. Os sons não precisam ser buscados na memória. Basta sentar-se e deixar ser levado. De igual modo o cristão, quando desigrejado, pode se assentar á margem da vida e apenas observar a vida passar diante dele. Mas é sempre assim? Acredito que não.

O que dá sentido a nossa vida não é o que fazemos e sim o que somos. As coisas que fazemos são feitas dentro de um espaço temporal e não podem ser mais do que servas de nosso ser. O que fazemos devem construir nossa consciência e história. Essas coisas devem ainda moldar a pessoa que somos. Ir a um culto é algo que fazemos para Deus, para o outro e para nós. Para Deus e por Deus servimos ao outro. E neste serviço ganhamos em vivência e em satisfação da alma. Cada coisa que fazemos neste mundo é um tijolo que constrói a ponte que leva-nos ao nosso "eu" melhor.

Por mais que seja estranha a sensação de não ter o compromisso fixo, posso - e devo! - continuar o meu culto pessoal a Deus. O que fazia na comunidade de fé é possível de ser feito fora dela. "Cultuar" é "servir". E serviço "a" Deus. Logo, tenho buscado servir a Deus em cada coisa que tenho feito. Este é o modo o qual tenho cultuado.

Mas tenho sentido muita falta do calor da comunidade, aquela sensação gostosa de ver os rostos conhecidos onde somos orientados por um líder bem intencionado. Sempre pensei que a práxis fosse mais relevante do que os momentos de devoção. Tornei-me um cristão pragmático, eu reconheço. E isso é perigoso. Perigoso, pois é uma ilusão pensar que Deus espera de mim mais do que eu possa esperar dEle. Ou seja, não é o que eu faço por Ele que conta na construção do meu "eu" e sim o que Ele faz por/em mim. O excesso de "serviço" leva a um pragmatismo que engole pastores, dizimando famílias de pastores. "Culto/serviço", sem momentos de devocional é como uma cadeira com uma perna menor do que a outra. 

 Acho que o melhor de estar desigrejado é o desintoxicamento de ideias, coisa que antes eu não conseguia fazer. É uma renovação da mente, estando longe do que me fazia chorar de angústia, algumas vezes. Espero que no meu desigrejamento eu possa olhar para tudo o que me formou até hoje e repensar as coisas que fiz e conseguir ser alguém melhor. Tenho pensado muito nos meu erros pastorais e nos erros teológicos que cometi. Gostaria voltar atrás e apagá-los. Mas prefiro acreditar que eles também são tijolos da ponte que vai me construindo.

Não sei quando escreverei novamente sobre meu desigrejamento. Até lá, ore por mim.
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