Houve um tempo em que eu recorria á Reforma Protestante como alternativa ao evangelicalismo, "norte-americanizado", que impera nas igrejas evangélicas do nosso país. A simples ideia de dar uma nova forma ao que possui uma forma, já é por si só algo cativador, pelo menos a mim. E dizer a este sistema opressor que lê a Bíblia de qualquer jeito sem reflexão crítica, sem conhecimento teórico (isso aos pregadores, é claro) e sem responsabilidade cristã é buscar novos caminhos, como tencionou Lutero.
Não se faz necessário dizer aqui que Lutero jamais almejou uma separação com a Igreja Católica Romana. Sua intenção era trazer á luz o que estava errado. E o crivo para se dizer que algo estava destoante da vontade de Deus era exclusivamente a Bíblia, que para ele deveria estar acima da Tradição e não ao lado: Sola Scriptura.
Lutero não foi o único reformador de sua época. Havia também Úlrico Zwínglio, John Knox, Pedro Valdo, João Calvino, John Huss, John Wycliff e embora a história negue, algumas mulheres reformadoras como Marie Dentière e Katharina von Bora. Mas estas não foram as primeiras vozes que gritaram por uma reforma.
A Bíblia nos conta a história do rei Josias que buscava uma reforma centralizadora do culto em Jerusalém e de rejeição dos "costumes religiosos emprestados da Assíria e cultos de deuses estrangeiros em geral, os Baals, as Astartes e outros mais, que contaminavam o culto do Deus nacional, YHWH"¹. Era uma tentativa feita após o rei encontrar um rolo do Livro da Lei, que rasgou suas veste em sinal de arrependimento e vergonha. No entanto, o profeta Jeremias vê mais adiante que o povo pouco levou a sério tentativa de voltar ao caminho de Deus, que naquele momento se dava pelo cumprimento da Lei.
Em ambas as reformas, a de Josias e a de Lutero, a tentativa é de retorno a Bíblia para melhor obedecer á Deus. Dizer que os dois falharam é errado. Toda tentativa de se aproximar de Deus, sem segundas intenções, é bem vista por Deus, que nas palavras de Jesus diz que "o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6:37). No entanto, devemos reconhecer as falhas e excessos no processo de reforma da tentativa do século XVI.
Embora a tradição protestante negue, Lutero consentiuo no massacre dos anabatistas, que faziam parte da ala radical da reforma. Calvino, juntamente com Melanchton, queimaram vivo o herege Michael de Servetus que foi um, também, reformador. Os anabatistas foram apelidados de "iconoclastas", pois assim que rompeu-se a "reforma" muitos saíram pela Europa a invadir igrejas e quebrar as imagens dos santos Católicos e pelo caminho deixaram um rastro de sangue.
Há muito a se comemorar neste 31 de outubro. No entanto, há muitos excessos a se prantear também.
Há uns dois ou três anos atrás convidaram o Caio Fábio para uma comissão neo-reformadora brasileira. Ele não pode ir, segundo ele, pois a data coincidia com casamento de sua filha. No entanto, ele propôs via vídeo, que foi reproduzido no evento, a seguinte opinião:
O que a "igreja" precisa a fim de se tornar Igreja, segundo Jesus, não é de uma nova Reforma, mas de Regeneração, de arrependimento e de iluminação do Evangelho na Graça de Deus.
Assim como Josias que ao descobrir o conteúdo do Livro, rasgou suas vestes em arrependimento e vergonha, devemos "rasgar os nossos corações" neste 31 de outubro. Devemos ir á Bíblia para descobrir, não na Lei veterotestamentária, mas na neotestamentária, a Lei escrita em nossos corações, qual o nosso papel neste mundo. A reforma que precisamos é de ler a Bíblia com responsabilidade e amor ao próximo, tendo Jesus como crivo de julgamento das pessoas. E não o nosso falho senso de juízo e justiça.
Precisamos nos reformar de dentro para fora para sermos uma Igreja relevante para o mundo. E não um grupo que cresce igual a massa fermentada: para a direita; para esquerda; para frente e para trás; porém cresce vazio por dentro e sem Deus. Devemos nos reformar (Romanos 12) para não ser um grupinho sectário que assim como o velho Israel, quer centralizar Deus dentro de seu arraial, dentro sua interpretação bíblica ao invés de obedecê-lo e levá-lo até os confins da terra.
Feliz dia da Reforma. Não a protestante, mas a Reforma Divina, que Ele há de completar até o dia da volta de nosso Senhor.
VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: São Paulo, Vida Nova, 2004, p. 375.
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