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21 de nov. de 2016

Teologia conservadora?


Lamentavelmente, as pessoas associaram a ideia de que o "conservadorismo religioso" significa "manter-se fiel a Deus Pai, Filho e Espírito". Um terrível engano que unicamente conserva o atraso, o preconceito e as injustiças sócio-religiosas.

Quando alguém pressupõe defender uma teologia conservadora "em nome do crescimento numérico", temos que perguntar por quais coisas essa teologia pretende conservar. Seria o rito? Seria a institucionalização da fé? A doutrina? Seriam as leituras descontextualizadas acerca da mulher, do negro ou dos homoafetivos? Ou leituras que afirmam a Terra plana, jovem e literalmente criada em sete dias? Ou talvez, uma leitura que pretende fazer prosélitos pela "cruz ou espada"? Ou ainda, a demonização das outras expressões religiosas? Ou quem sabe, leituras que enxergaram na cor da pele do negro o sinal de Caim?

Isso é totalmente destoante do Cristo que releu as Escrituras jogando luz sobre elas de maneira que mudou a vida daqueles que com ele partilharam o pão na Palestina do século primeiro. "Não se põe vinho novo em odres velhos; ao contrário, estouram os odres", disse Jesus tratando da velha e da nova economia da salvação. Existem percepções de mundo que são totalmente anacrônicas com o mundo atual. E como protestante, faço o constante exercício de SER REFORMANDO, EM CONSTANTE REFORMA.

"O protestantismo liberal clássico surgiu na metade do século XIX, na Alemanha, em meio à crescente percepção de que a fé e a teologia cristãs necessitavam, ambas, ser revistas à luz do conhecimento moderno." (MCGRATH, 2005, p. 138). Talvez não seja o caso das igrejas entrevistas na pesquisa, mas a crítica negativa ao esforço teológico de buscar o conhecimento interdisciplinar é algo danoso a Igreja de Jesus.

Albrecht Benjamin Ritschl, defensor da teologia liberal (século XIX), acreditava que somente após a noção de Reino de Deus ser compreendida pela igreja, uma teologia dialogal poderia ser aceita pelas comunidades de fé cristãs. Isto é, somente uma leitura que apontasse a realidade presente do "reino entre nós" (Lucas 17.21), criaria um ambiente progressista para uma teologia não conservadora, que é, "sui generis", exclusivista e antagônica às Escrituras. Paul Tillich aponta o método da correlação: "Ele entende a função da teologia moderna de estabelecer um diálogo entre a cultura humana e a fé cristã [...] A filosofia, a literatura e as artes dos tempos modernos apontam para questões que interessam aos seres humanos. A teologia, por sua vez, formula respostas para essas questões e, ao fazê-lo, correlaciona o evangelho à cultura moderna. O evangelho deve falar à cultura e isso só é possível se as questões concretas, levantadas por essa cultura, forem ouvidas." (Ibidem, 2005, p. 139).

Em nome do crescimento numérico muitas estratégias já foram adotadas pela igreja ao longo de sua história. Desde Constantino Magno até Macedos, Malafaias e afins. Quanto a nós, resta-nos seguir o conselho de Paulo: "[Conservemos] a fé, a esperança e o amor" (1Co 13.13). O que realmente vale a pena ser conservado.

P.S.¹: Ressalto que a prática, destacada na matéria, de ler a Bíblia é de suma importância também para os progressistas cristãos.
P.S.²: O valor do liberalismo do século XIX, limita-se no seu papel mediador entre fundamentalistas e não cristãos; sua visão extremamente otimista do ser humano é amplamente contestada por Barth e Niebuhr, com os quais concordo em parte. Tillich melhor desenvolve a teologia protestante liberal, a meu ver.

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