Sobre heróis e ideologias

"Meus heróis morreram de overdose.

Meus inimigos estão no poder.

Ideologia, eu quero uma pra viver..."

Ideologia, de Cazuza.

Heróis. Suas histórias cativam multidões. Eles encorajam os menos corajosos a agir bravamente. Um discurso de um herói faz com que o menor exército aja como se fosse um enorme batalhão. As histórias de seus atos viram lendas e com o tempo é difícil dizer se tudo o que dizem sobre eles realmente aconteceu. O fato é que eles, nascidos ou inventados, inspiram seus admiradores.

A história do povo hebreu é recheada de heróis nacionais. A Bíblia fala dos Nephilim (Gn 6), uma raça de "gigantes", considerados heróis míticos, bem nos dias de outro herói, Noé. Há ainda "os Patriarcas", tendo Abraão como o maior deles, seguido por Jacó e, o "patriarca de transição", Isaque. Os Juízes bíblicos são heróis de um tempo onde o povo vivia num relacionamento comportamental, cíclico: povo em pecado, surge um herói, povo corrige seu modo de vida até o herói morrer e o ciclo recomeçar. Até mesmo um rei alcançou o status de "herói": Davi. Todos os reis pós-Davi são comparados ao filho de Jessé por "andarem em seus caminhos" ou não.

A história dos cristãos também é cheia de heróis que pela demonstração de compromisso com a Fé no Cristo foram martirizados, em sua maioria, e posteriormente "canonizados" por algumas vertentes da religião. Estas foram pessoas que se dedicaram a um estilo de vida que visava obedecer aos mandamentos do Cristo. Seu modo de vida, trouxe-lhes, posteriormente, a alcunha de "heróis".

No entanto, em nossos dias há uma carência por heróis. Os antigos heróis já não inspiram jovens como os antigos faziam, e nem mesmo os mais velhos são encorajados por heróis há muito desgastados e empoeirados. Lembremos que heróis são antes de qualquer coisa seguidores de uma ideologia pela qual viveram e morreram. E nesse espaço temporal de ausência de heróis, são os vilões que roubam a cena.

Estes vivem á seguir ideologias baseadas em suas frustrações. Fazem de seus seguidores pessoas alienadas e acríticas. Vivem como idiossincráticos religiosos. Apelam para estratégias de verdadeiros Gênios do Mal. E isso tudo como se seus seguidores fossem cobaias de suas idéias. Bem disse Lewis, que "a recomendação feita a Pedro foi 'apascenta as minhas ovelhas', não 'faça experiências com as minhas cobaias', nem mesmo 'ensine novos truques aos meus cães'". Mas o que vemos são ovelhas adestradas vivendo a imitar seus idealizadores sem ideais. Pensemos em Adolf Hitler que convenceu boa parte dos pastores protestantes alemães a aderirem a sua empreitada insana.

O recente caso do "pastor cheirador de Bíblias", é um exemplo dessa geração órfã de heróis. Ainda que seja alguém "bem-intencionado", há limites morais que não devem ser quebrados. Se não for assim, qualquer maluquice feita "em nome de Jesus" é justificada. Qualquer herói serve, desde que motive... Mas, motive á quê? A dizermos que amamos tanto uma causa que não importa a besteria que façamos desde que seja dedicada a ela? "O que mais [vai ser feito] 'em nome do amor?'", cantou o U2.

Precisamos de heróis de verdade. Heróis que não voam mas nos levam ás alturas, pra mais perto de Deus na simplicidade de seus atos. Heróis que não têm super poderes, mas nos ensinam a conviver com as fraquezas uns dos outros. Heróis que não nos peçam para sermos "loucos" por suas ideologias que chocam e escandalizam os que não creem. Heróis de pés descalços e de mentes bem calçadas no Cristo. Heróis que não tragam a atenção das pessoas para si, mas que no momento que as câmeras forem apontadas para eles, apontem para o Cristo como João Batista o fez. Heróis que não precisem de outra ideologia que não seja o amor de Deus manifesto em Cristo Jesus. Dê-nos verdadeiros heróis, Senhor.