Frases

23 de mai. de 2012

Ser "reformado" é a solução?

 Mesmo? Jurava que tinha sido Jesus... 
(imagem retirada da internet)

Devido a interminável onda de espiritualidade "estranha" que se tem experimentado no país, podemos observar o surgimento de muitos auto-proclamados neo-reformadores, que acreditam que a única alternativa ao que se vê frente as distúrbios de espiritualidade seja um retorno ás bases, ideologia e práxis da Reforma Protestante.

Tendo em vista se diferenciar daqueles, este novo grupo busca um retorno á espiritualidade da Reforma, aparentemente, sem mesmo ter uma visão histórica e crítica sobre o movimento que se rompeu no século XVI. Saber nomes e lemas não faz de nós conhecedores deste movimento. Isso pode ser dito da grande maioria dos neoreformadores.

O calvinismo surgiu como único escape norteador teológico (como se não houvesse dentre aqueles que são criticados, farelos de calvinismo na ideologia do somos filhos do Rei). Seus atuais paladinos tornaram-se representantes da ortodoxia correta. Os lemas da Reforma são decorados (Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria). Falecidos pregadores tornaram-se semideuses e suas pregações fielmente repetidas nos púlpitos. A Bíblia foi deificada devido a uma má interpretação do contexto do Sola Scriptura.

Acaso saberiam estes de que o movimento da Reforma tem seu lado obscuro, também? Que Lutero e Calvino consentiram no assassinato de muitas pessoas? Que muitos dos prosélitos da nova Fé ingressaram no protestantismo por imposição de seus monarcas, que por sua vez tinha interesses escusos ao abandonar a religião de Roma? Que, conforme bem observou Weber, o protestantismo forneceu as bases para um capitalismo cada vez mais voraz?

Acredito que ir para o outro extremo deste cabo-de-guerra não é uma resposta saudável á essa espiritualidade estranha que vemos por aqui. Nem mesmo idealizar a, tão ufanada, Igreja Primitiva seria uma resposta cristã. São contextos e culturas muito distantes do nosso e impossivelmente serão reproduzidos para que sejam implantados.

A melhor alternativa, talvez, seria um repensar da Fé á partir de nossos problemas e cultura. Na Bíblia o desenvolvimento da teologia se dá mediante dos problemas e necessidades do cotidiano, rumo a uma práxis que manifestam o caráter de Deus. Noé surge aquele que poderia recomeçar mediante uma sociedade má. Abraão é chamado para dar origem a uma nação que manifestasse a vontade de Deus. O pastor de ovelhas Moisés foi chamado mediante o clamor do povo escravizado. Amós larga a vida de homem do campo para se levantar como porta-vóz dos oprimidos. O que dizer de Paulo, que desenvolveu toda a sua reflexão teológica á partir do cotidiano de seus leitores e ouvintes?

Nossa prática de espiritualidade deve nascer á partir dos clamores e anseios do contexto o qual estamos inseridos. E não á partir dos problemas que Valdo, Wycliffe, Huss, Zwinglio, Lutero e Calvino encontraram em seus dias. Da Reforma, podemos usar de seu lema para podermos seguir adiante: Igreja reformada, sempre se reformando. Até mesmo da Reforma Protestante precisamos nos libertar, rumo à espiritualidade sempre reformada.

2 comentários:

  1. Não entendi bem a mensagem do texto.

    Se estiver dizendo que a fé e seus fundamentos devem ser subservientes a cultura, eu discordo totalmente.

    Acredito que o fundamento da genuína fé cristã é acultural.

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  2. Olá Rodrigo, tudo bem?

    Não se trata de condicionar os fundamentos da Fé a cultura. Trata-se de ir a Deus em busca de resolver os problemas culturais. A reflexão cristã precisa passar pela cultura e analisando os problemas contemporâneos para praticar sua Fé.

    O fundamento da Fé cristã, DEUS, é acultural e atemporal. No entanto, não podemos conduzir nossa Fé nos moldes que fizeram os reformadores que em seu tempo se deparam com outros problemas. Vivemos em outra época e o 'zeitgeist' é diferente em nossos dias.

    A Bíblia é fundamento da Fé, é claro. Mas ela não é Deus. Ela precisa ser interpretada e lida em comunidade, sem imposição cultural, pois até mesmo a Bíblia foi escrita em uma cultura. A Bíblia é um livro que narra a relação de um povo com Deus. E cheia está de cultura Rodrigo.

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