Recentemente fui convidado em uma rede social para participar da "Marcha Para Jesus 2011", que acontecerá em outubro em minha cidade, ao que me parece. Tentei começar a dialogar com os que confirmaram a participação no evento, mas o que consegui foi tomar algumas pedradas dos "irmãos" devido a minha posição contrária a tal evento.
Sou contra a Marcha para Jesus. Sou contra qualquer "marcha" que tenha atitudes sectárias em detrimento ao "outro". Marcha "da maconha", "das vagabundas", "do orgulho gay", "do orgulho hétero", e muitas outras "marchas" que não apontem para extremos da sociedade buscando muitas das vezes uma posição superior sobre os demais. E o movimento feito "para Jesus" é antes de mais nada uma das formas de opressão aos que embora amem a Deus, estão fora do cristianismo protestante. É "show". É marketing de bandeiras congregacionais. É um grito de desespero de alguém que precisa de berrar aos quatro ventos sua postura religiosa para se auto-afirmar, como se não estivesse seguro de suas convicções. É antes de qualquer coisa desnecessário.
Se a Bíblia é ainda a regra de Fé para a Igreja de nossos dias (o que tenho dúvidas mediante a exibição de alguns que se dizem "cristãos"), é nela que encontramos qual é nossa postura para demonstrar a nossa Fé. Basta fazer uma rápida leitura do livro de Atos para descobrir qual a melhor forma de demonstrar a finalidade de nossa espiritualidade:
"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos 2.42-47
A intenção desta postagem não é uma explanação da espiritualidade cristã na ótica bíblica. Não foi isso que me levou a escrever. O que me trouxe para frente do computador é a indignação enquanto cristão, agente de transformação do mundo e mensageiro das Boas Novas do reino de Deus. Geralmente as Marchas para Jesus levam ás ruas números expressivos de pessoas. Segundo o jornal espanhol El País, em sua matéria sob o título Por que os brasileiros não reagem á corrupção de seus políticos?, destaca que "As únicas causas capazes de colocar nas ruas milhões de pessoas [milhões!] são os homossexuais, os seguidores de igrejas evangélicas na Marcha para Jesus e os que pedem a liberação da maconha". Será isso uma verdade?
Na última terça-feira, dia 20 de setembro, estava marcada um ato contra a corrupção na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Estimava-se que iriam comparecer ao evento cerca de 30.000, dos 35.000 que confirmaram presença pelo Facebook. Nos dias que antecederam ao ato, o jornalista Arnaldo Jabor convocou incessantemente aos cariocas para que protestassem contra a corrupção. Não compareceram mais do que 2.500 pessoas.
Na capital da minha Minas Gerais, os professores fazem greve, que já dura mais de cem dias, reivindicando melhoria salarial, que tem o piso atual de R$ 712,00, o que é uma vergonha. Entre os dias 14 e 15 deste mês, 50 (!) servidores da educação e da saúde se acorrentaram em forma de protesto contra um projeto de lei contra seus direitos. Agravando a situação dos professores, muitos pais creditam aos docentes o rendimento escolar e o atual afastamento escolar de seus filhos. Não há nenhum esforço, nenhuma mobilização da população belo-horizontina para ajudar os professores a conseguir ter condições de receber a justa paga pelo seu trabalho tão importante. Nesta hora me pergunto: Aonde está a igreja marchadora? Que "reino" que esta igreja quer implantar (Lc 22.29)? Se preparando para marcha do já vitorioso Cristo? Cristo não espera isso de nós.
Por estes motivos não sou adépto de nenhuma das marchas que citei acima. Não quero fazer propaganda de uma vertente do cristianismo que está confusa, perdida e biblicamente errada em muitos aspectos. Sou propagandista de Deus, e dEle somente. E também não quero engrossar o caldo desta geração de crentes que determinam, marcham, fazem "reboliço santo" e outras peripécias que retiram do crente a responsabilidade social com o mundo que o cerca. A grande verdade é que nossas "marchas" estão longe de serem movimentos libertadores como os que Gandhi e Luther King faziam. Que Deus tenha misericórdia de nós.
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