Frases

23 de set. de 2011

Lamentações do fim do mundo



por Maurílio Ribeiro da Silva.

Barbárie! Pura e inclemente barbárie. Mantos brancos ocultam o cajado torto e o odre roto de nossa embriagada consciência. Visões monolátricas míopes são ofuscadas pelo brilho de meias verdades ocultas em religiosidade plena.

Guerreiros do Armagedom se alinham em fileiras precisas, ofuscados pelo brilho de espadas polidas. O inimigo observa atônito, perplexo por tão fútil brincadeira. Megalomaníacos em mantos púrpura, envergonhando até mesmo o fidalgo Dom Quixote de La Mancha.

No calor da tarde o sangue fétido se espalha com o vento. Sangue de touros e bodes misturado ao sangue de nossas vítimas de cada dia. Surto psico-profético de Saul, enquanto o pesar de Samuel anuncia o fim de uma era.

O silêncio dos justos ecoa como um brado de guerra por canto algum, enquanto o grito iníquo cala e se oculta no coração de todos. Uma esmola, um trocado, um agrado até que se fecha mais um conchavo de corpos inertes, sem alma.

Perto do fim do mundo nos assentamos e choramos. Pendurando nossas guitarras nos galhos secos de nossos carvalhos sagrados. Como entoaremos canções se não recordamos o tom? Como dançaremos em roda junto a fogueira se os joelhos atrofiados se negam?

Perto do fim do mundo percebemos que não sabemos onde o mundo começa. Esquecemos do jardim, do rio e do fruto. A voz suave da tarde que embalava os sonhos se foi. Resignados ficamos a um frio e solitário encontro dominical, onde seres imbecilizados e neutros batem palmas entorpecidos por mentiras multicores.

Perto do fim do mundo descubro não ser nada mais que um jogo de palavras compostas em um lamento.

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