'É provável que a maioria dos cristãos desconheçam as discussões levantadas na história da Igreja á respeito da introdução da cultura "secular" dentro da igreja. A discussão vem desde a época do Pais da Igreja. A pergunta era (é?): a cultura secular deve ser inserida ou utilizada pela Igreja de Jesus?
Em 2008, participei de um evangelismo na cidade de Araguari, no triângulo mineiro, e a igreja que nos recepcionou e emprestou o templo para a pregação aos que convidávamos, proibiu a entrada de palhaços para ministrar ás crianças, no templo. Acreditavam que estariam ofendendo á Deus. Conta-se a história de uma comunidade americana que arrecadou fundos para enviar um piano para uma congregação recém formada no continente africano. O missionário-pastor da igreja não recebeu o piano, pois acreditava que era um instrumento do diabo que era também usado nos cabarés norte-americanos. No Brasil, ainda temos irmãos em Cristo que não jogam futebol, não têm televisão em suas casas, não aceitam bateria ou guitarra nos cultos, têm aversão á peças teatrais e a músicas que não sejam utilizadas nos cultos, as chamadas "músicas de louvor e adoração".
No século II, havia a dúvida se a poesia, a filosofia e a literatura poderiam ser apropriadas pela comunidade cristã. Para o autor, do segundo século, Justino Mártir as sementes da sabedoria divina haviam sido semeadas por todo o mundo, o que significa que os cristãos poderiam e deveriam estar prontos para encontrar aspectos do evangelho refletidos no contexto externo à igreja.
"...Cristo é o unigênito de Deus e temos proclamado que Ele é o Logos, a quem todas as raças têm acesso... O que quer que tenham dito, com acerto, tanto os filósofos, quanto os advogados, foi articulado por meio da descoberta e da reflexão sobre algum aspecto do Logos... Contudo, todos os autores foram capazes de ver a verdade de forma nebulosa, em razão da semente do Logos que foi inserida neles." - Justino Mártir*
A visão de Justino é muito parecida com a do teólogo C. S. Lewis, que podemos notar na sétima obra da série As Crônicas de Nárnia - A Última Batalha:
"É mentira! Não porque ele e eu sejamos um, mas por sermos o oposto um do outro é que tomo para mim os serviços que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash (personificação do diabo) e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam (personificação de Jesus), é a Tash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras." - C. S. Lewis
Agostinho de Hipona também se manifestou as coisas boas que a cultura secular pode oferecer:
"Se aqueles que são chamados de filósofos, em especial os platônicos, disserem qualquer coisa que seja verdadeira e consistente com nossa fé, não devemos rejeitá-la, mas antes reivindicá-la para nosso uso, conscientes de que eles a possuem injustamente... De fato, entre eles [pagãos] encontram-se algumas verdades relativas à adoração do Deus único... Portanto, o cristão é capaz de separar essas verdades de suas infelizes associações, separando-as e utilizando essas verdades de maneira adequadas à proclamação do evangelho." - Agostinho de Hipona*
Iremos dar um passo á frente na mentalidade cristã-brasileira quando deixarmos de enxergar o diabo em tudo que não tenha sido criado exclusivamente para a Igreja. Como diz o professor Ebenézer Júnior: "Uma verdade, não vira mentira somente porque foi dito por um mentiroso. Uma coisa boa, não deixa de ser boa somente porque foi feita por alguém relativamente mal."
*Fontes históricas: MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a telogia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005
É pelos frutos q se conhece as árvores.
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