Jesus era um cara subversivo. Talvez muitos não estejam acostumados a esta palavra que era amplamente ouvida e lida nos dias da Ditadura Militar brasileira. Alcunha direcionada aqueles que eram contrários ao regime. Subversão é: "ou aquele que pretende destruir ou transformar a ordem política, social e econômica estabelecida."¹.
Editei esta imagem de Jesus segurando a "Máscara de Guy Fawkes", apareceu recentemente no filme V de Vingança, quando o personagem "V" lutava contra um regime totalitário. Fawkes foi um soldado inglês católico que teve participação na "Conspiração da pólvora" (Gunpowder Plot) na qual se pretendia assassinar o rei protestante Jaime I da Inglaterra e todos os membros do parlamento durante uma sessão em 1605, objetivando o início de um levante católico². No filme, "V" luta contra o regime fascista que havia se instalado em no futuro, de um tipo de realidade alternativa.
Embora Jesus fosse um subversivo, jamais tencionou ser um reacionário bélico. Sua forma de reagir contra os sistemas de opressão baseavam-se em uma mudança que vem de dentro para fora. Era um chamado a "nascer de novo", á resistir a tentação de revidar o mal com o mal, para dividir o excedente para que todos possam comer, e dentre muitos outros o principal: amar as pessoas ainda que para isso você tenha que morrer por elas³.
As formas de rebelião contra os sistemas de opressão até então praticadas pelos judeus, tendo Judas Macabeu⁴ como seu representante, era a guerrilha popular, armada. Jesus aparece no primeiro século subvertendo não apenas os moldes de interpretação da Lei de Moisés, mas também o modelo de enfrentar os opressores: "Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam"; "Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam"; "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses"⁵.
Ele subverteu ao modelo de viver a Torá ao dizer coisas como "aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela [a mulher adúltera]"; "Ouvistes que foi dito aos antigos... Eu, porém vos digo..."⁶. E Ele foi além da reinterpretação. Segundo o Mestre de Nazaré os seus discípulos deveriam abrir mão de qualquer método de domínio, em suas palavras "entre vós não será assim"⁷. Ele deu exemplo lavando os pés deles, servindo-os e sendo servido pelas mulheres, o que era terrível para a reputação de um Rabi.
Ele relativizou a Lei de Moisés em prol da vida. Nem mesmo ás crenças dos Patriarcas, Jesus se dobrou quando estas colocavam a vida em perigo. Ele era um "rebelde" que entendia que a Lei foi criada para o bem da vida, e não a vida para o bem da Lei⁸. Sendo assim, a Lei deveria ser interpretada á partir da vida e não á partir dela mesma.
Os outros deuses pediam sacrifícios humanos para apaziguar a sua ira contra a humanidade. Jesus é o próprio sacrifício. As pessoas fazem peregrinações para locais de "encontro" para ficarem mais perto de seus deuses, seja em Meca, em Jerusalém ou no alto de um monte. Jesus desce de seu trono de glória para resgatar as ovelhas perdidas. Nenhum deus demonstrava as suas fraquezas para que não fosse subjugado. Jesus fez questão de demonstrar suas fragilidades ao chorar, sorrir, comer, dormir, sentir medo, sangrar e até mesmo morrer. E nisso as pessoas se identificaram com Ele. Ele é diferente.
Para Ele, não há maior entre os seus seguidores. Todos são iguais. Ele não vê os pequenos como parte mais frágil, e sim como parte menos afetada pela mentalidade má que impera no mundo. Seu julgamento não é o nosso. Nem mesmo quando se trata da cor da pele, pois foi um homem de, possível, pele negra quem o ajudou em seu momento mais difícil ao dividir o peso da cruz. Um mulher de má reputação lavou-lhe os pés. As crianças empoeiradas subiam em seu colo. O cobrador de impostos era seu anfitrião. E Ele não rejeitou uma boa rodada de vinho para celebrar a vida com seus amigos. "Beberrão", sim. "Bêbado", jamais. Ele subverteu o modelo estabelecido para "Rabi".
Ele propôs a implantação de um reino á partir de pessoas falíveis, injustas, mentirosas, em suma, cheias de defeitos. O livro de Isaías explicita uma respostas para estas escolhas de Jesus que não compreendemos muito bem: "os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos"⁹. Pela via lógica de se resolver um grande problema, como "mudar a mentalidade" (μετάνοια , metanoia) de um povo, não escolheríamos um bando de iletrados e confusos pescadores. Mas Ele é assim. Traz uma transformação que não esperávamos, quando estamos com os olhos voltados para bem menos.
De seus discípulos, Ele espera exatamente isso: "sejam subversivos"; "não se dobrem aos sistemas opressores". Espera que sejamos reacionários a qualquer forma de dominação, seja ela de gênero, política, financeira e até mesmo religiosa. Um discípulo subversivo não se contenta com o básico, ele vai além. Leonardo da Vinci disse: "Lamentável é o discípulo que não excede o seu mestre". Cristo, quatorze séculos antes, disse que "obras maiores faríamos"¹⁰, desde que crêssemos.
Devemos lutar contra tudo o que é contra o reino de amor que Jesus inaugurou e confiou a nós. Somos agentes desta "nova ordem" de transformação do mundo e Ele é nosso líder. Nessa luta, somos convidados a lutar com a única arma capaz de mudar este mundo: o amor. Nesta jornada não estamos sozinhos. Estamos acompanhados do próprio Cristo, que em nós habita pelo através de seu Espírito.
Assim, somos nós: subversivos discípulos, do mais subversivo homem que já pisou nesta terra.
¹ - Dicionário Michalis.
² - Wikipédia.
³ - João 15:13.
⁴ - Judas Macabeu foi líder da revolta armada popular conhecida como "Revolta dos Macabeus", (do hebraico מכבים ou מקבים, makabim ou maqabim, "martelos"; em grego: Μακκαβαῖ). Os macabeus fundaram a dinastia dos Hasmoneus, que governou de 164 a 63 a.C., reimpuseram a religião judaica, expandiram as fronteiras de Israel e reduziram no país a influência da cultura helenística.
⁵ - Lucas 6:27-29.⁶ - João 8:7; Mateus 5:21-22.
⁷ - Marcos 10:43.
⁸ - Marcos 2:27.
⁹ - Isaías 55:9.
¹⁰ - João 14:12.
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