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20 de out. de 2011

A apologética cristã tem limites?


Segundo o dicionário Michaelis, apologia significa: "1. Discurso ou escrito laudatório para justificar ou defender alguém ou alguma coisa; 2. Elogio, louvor.". O Léxico grego¹ define ἀπολογία como: "1. Defesa verbal, discurso em defesa; 2. Fundamento de declaração ou argumento.". Sendo assim, apologeta ou apologista é aquele que defende uma ideologia.

Nosso mundo é repleto de apologias, sejam elas destinas á preferência política, á liberdade de escolha afetiva, ao consumo de alucinógenos, ao sexo, aos bens de consumo, á religião dentre muitas outras. Basicamente, define-se a apologia como "a defesa e exaltação de opinião, seja ela qual for". Ela busca argumentar em prol de suas escolhas e explicita-as como forma de manifestação. Os apologetas em geral, são pessoas que conhecem o que estão defendendo. Mas isso não é uma regra. Existem aqueles que "compram" uma idéia mesmo sem conhecê-la bem.

Quando se trata de apologia cristã, entendemos que está se falando da defesa da fé em Cristo. A história da apologia cristã é extensa e não é meu interesse explaná-la nesta postagem. "Defender a causa de Cristo", soa bem aos ouvidos de alguém que crê em Jesus. A Bíblia incentiva esta prática nos escritos neotestamentários: "estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós"²; "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um"³.

Mas, será que todo tipo de apologia é saudável?

Infelizmente, creio que não. E quando se trata da "apologia cristã" o problema costuma aparecer também, e nos piores moldes o possível. Muitos apologetas usam o título de "apologetas" para se defenderem do ataque de opiniões. Se auto-intitulam assim, pois acreditam estar defendendo a fé cristã, quando na verdade, alguns, estão defendendo a sua própria interpretação da Bíblia e do cristianismo, que não é homogêneo. Uma prova cabal da heterogeneidade são as várias denominações existentes (li, não sei onde, que só as protestantes já passam de 30 mil em todo mundo).

Não quero generalizar os apologetas, pois sei de bons exemplos como o Lane CraigN.T. Wright. No entanto, vejo que muitos em busca de anunciar e defender o cristianismo estão prestando um enorme desserviço a causa de Cristo. 

Muitos apologetas evangélicos (generalizando os protestantes), usam de argumentos vazios, infundados, textos fora do contexto, preconceituosos e ausentes de reflexão multi-científica para descrever os que "pensam diferente" deles. Em suma, estão defendendo a sua perspectiva teológica, que não é a única. O próprio Jesus enxergava as possibilidades de interpretação do texto bíblico, ao usar palavras como "Ouvistes que foi dito aos antigos... Eu, porém vos digo..."⁴. Em sua época vários outros mestres faziam suas interpretações da Lei de Moisés, sendo o mais famoso de seus dias Hylel. Assim Jesus propôs: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve."⁵.

Jesus propôs aos "cansados e oprimidos", que experimentassem a sua interpretação das Escrituras. Em sua defesa apologética, Ele jamais desmereceu as outras percepções, ou descreditou quem pensasse diferente. Infelizmente isso não é visto em muitos de seus seguidores. Os nossos apologetas gastam preciosos minutos em cima dos púlpitos para desmerecer as outras vertentes do cristianismo e percepções da Bíblia, como se fossem os "iluminados" par excellence.

Jesus jamais desmereceu um hassideu, saduceus nem mesmo os fariseus. Jamais! O movimento farisaico foi uma tentativa de retornar aos preceitos de YHWH, e não um movimento religioso e vazio tal qual encontramos no Novo Testamento. Uma outra hora falo deste movimente farisaico, com as devidas referências. O fato é que Jesus não diminuiu nem mesmo os deuses do Olimpo para enaltecer sua crença no Pai. Ele sabia que bastava ser Ele mesmo.

Concluindo, ser apologeta é muito mais do que descobrir os pontos contraditórios da opinião dos outros. E por certo, não é ficar dizendo que uma ou outra comunidade de fé é herege ou é uma seita. Tão pouco as demais religiões. Não sabemos quais os limites das palavras de Jesus quando disse: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor"⁶. Se Cristo é o exemplo a ser seguido, apologia se faz com amor ao próximo e com compromisso com o seu ponto de vista.

Propus há alguns dias o seguinte texto. Novamente, proponho aos aspirantes a apologetas o seguinte:
"Abolir os livros didáticos não resolveria o problema, seria apenas uma forma de punir um "bode expiatório". O grande erro consiste na maneira como ele é utilizado, pois nada tem de mal em usá-lo se informarmos ao nosso aluno que as visões presentes no livro didático, que é adotado na escola, são interpretações possíveis dentro de um universo de outras interpretações sobre aqueles mesmos temas, porém analisados por outros historiadores e sobre outras perspectivas teóricas e metodológicas." - Keila Carvalho
Releia o texto substituindo:
- Livro Didático por Bíblia
- Aluno por Ovelha
- Escola por Igreja
- Historiadores por Teólogos/Pastores/Irmãos.⁷

Sim. Há um limite universal para qualquer tipo de apologia, inclusive a cristã: o outro.

¹ - Heart Lights
² - 1 Pedro 3:15
³ - Colossenses 4:6
 - Mateus 5:21-22; 27-28; 31-32; 33-34; 38-39; 43-44;
⁵ - Mateus 11:29-30
⁶ - João 10:16
⁷ - Mero Cristianismo

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