"Que o direito corra como a água
e a justiça como um rio caudaloso!"
Amós 5:24
Os profetas judaicos fizeram severas denúncias contra os governos políticos dos reis de Israel e Judá. Na passagem supracitada, Amós, "criador de gado e cultivador de sicômoros", vendo os problemas nacionais nos dias de Ozias (Judá) e Jeroboão (Israel), ergueu sua voz contra os poderosos de seu tempo que vendiam "o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos". As esposas dos líderes políticos nacionais foram chamadas de "vacas de basã", devido aos seus excessivos adornos e deboche aos pobres. Estas pessoas encontravam-se "no monte de Samaria", local sagrado, ou seja, eram pessoas que se entendiam e queriam ser vistas como gente piedosa, religiosa, santa, etc.
Amós, homem comum, que não vinha de uma linhagem de profetas e também não se entendia como um profeta (nabi). Amós ainda não pertencia a classe política de sua época, pois não era membro de nenhuma das duas cortes. Mesmo assim, Amós viu-se como alguém designado por Javé para falar ao povo em seus dias: "O Senhor Deus falou, quem não profetizará?" Em outras palavras, Amós era apenas mais uma pessoa que viu que sua nação tornara-se um lugar de injustiças e, chamado por Deus, profetizou.
Em nossos dias as palavras "direito" e "justiça" vem sendo empregadas em várias esferas da sociedade, em especial nas manifestações populares das ruas. O clamor que nasce nos noticiários e rompe-se pelas ruas, é clamor para que justiça seja feita. Com um momento político ruim, recheado de falas apaixonadas e algumas vezes sem conhecimento do problema, desde as eleições 2013, as pessoas, que são vítimas de corrupções governamentais e de seus pares sociais desde que o primeiro europeu pisou em nossa terra, se politizaram da noite para o dia. Pessoas comuns como Amós, que viram as coisas ruins que sucedem em todo nosso país e foram para as ruas se manifestar por um país melhor.
Contudo, há uma importante diferença do movimento das ruas em nossos dias, do movimento profético de Amós no século VII a.C.: a justiça pela qual Deus tirou Amós de sua vida comum para o engajamento religioso-político clamava por uma justiça imparcial. Amós proferiu denúncia contra os povos vizinhos e contra seu próprio povo. Damasco, Gaza, Filistéia, Tiro, Fenícia, Edom, Amon, Moab, Judá e Israel: todos foram acusados de seus erros por Amós, ninguém foi poupado.
Infelizmente há nos noticiários e no clamor popular, nítida seletividade. Podemos perceber que a há uma erronia concentração de todos os problemas do país, que viveu anos de má gestão e corrupção, em cima de um partido ou um político A ou B. Os noticiários, muitas vezes parciais, são a principal causa de tal desinformação e inflamação popular contra A e B. Assim, os gritos por justiça vão demonstrando o tipo de "justiça" que as pessoas, mesmo sem saber, estão pedindo.
Quando a "justiça" é parcial, ela torna-se irremediavelmente injustiça. Quando a Justiça não julga com base no direito de cada cidadão, colhe-se maldade (Pv 22.8). Pois a injustiça feita com outro semelhante, que pensa e age diferente de mim, é injustiça feita contra a mim mesmo. Moisés fazendo a releitura ao povo hebreu dos mandamentos de Deus (Deuteronômio) disse: "Não pervertam a justiça nem mostrem parcialidade". Todo aquele que se identifica com o deus judaico-cristão deveria atentar-se para este mandamento.
Deus espera que nossa justiça seja como um rio caudaloso que pode saciar a sede de justiça de toda a humanidade e não apenas de uma parcela dela, como fazem os pequeninos riachos que, demasiadamente regionais, molham apenas uma fração de terra. Que o direito seja fluido em seu curso, não sendo retido a uns e utilizado à favor de outros. Que neste momento tão delicado de nossa história nacional, possamos aprender com Amós, que continua tão atual quanto a sede por uma justiça justa para todas(os).
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