E lhes disse:
Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago!
Lc 10:18
O que dizer quando nos deparamos com situações onde não podemos fazer muito para ajudar? Quando os problemas são maiores do que conseguimos enfrentar e o mal é presença ativa no mundo que nos cerca? Quando olhamos para a política, a pobreza, a religião, o sistema de saúde, a educação em geral, a má distribuição de terras e rendas é comum sentirmos uma pontinha de desesperança brotando em nós. A sensação de que não importa o quanto fazemos tudo tende a ficar cada vez pior é compartilhada por muitos que param para analisar a vida. O tempora, o mores!
É o tal do "problema do mal" que sempre é assunto para ser relido pela Teologia. É assunto em voga em qualquer época em que houver vida, onde houver vida. O próprio Jesus abordando um dos problemas "do mal", afirma que a pobreza é algo que sempre estaria presente no mundo (Jo 12:8). O mal é agente permanente no mundo desde Adão e seguiu-se através de seus filhos e assim por diante cada vez mais em escala vez mais hedionda.
A Fé em Jesus Cristo e, por conseguinte, o que se desenvolve no Cristianismo é uma Fé que olha para o passado para compreender o presente e, então, espera no futuro por dias melhores. Ela é esperançosa. Mas ela não pode ser passiva no presente cruzando os braços e esperando o desenrolar da história como alguém que vai ao teatro e em silêncio aguarda o final para só assim aplaudir e interferir no espetáculo da vida. Mas quando falamos do mal, qual é a expectativa em relação ao crescente problema da humanidade? A expectativa deve ser a vitória dos mais fracos sobre o mal e nunca o contrário. Como disse Érico Veríssimo, "a esperança é um empréstimo pedido à felicidade".
Hoje vemos o mal agindo nas muitas esferas da vida fazendo com que os pobres sejam cada vez mais pobres, os corruptos cada vez mais escabrosos no ato de espoliar a população, a manipulação das massas cada vez mais alienadas, carentes e desesperançadas ser algo comum. É comum também que as leituras do do livro do Apocalipse resultem em desesperança e apontamentos de que o mal só vai aumentar e que somente quando a desgraça for total o Cristo ressurgiria para por fim em tudo. Mas há um outro modo de entender essas coisas.
Na Bíblia o mal surge como uma serpente e como o passar do tempo cresce de tal forma a ganhar como figura simbólica o dragão (Ap 20.12). Sim, o mal é crescente, mas ele deve ser encarado ainda que pareça impossível a vitória sobre esse agente. Se no Éden o mal era apenas uma serpente a ser enfrentada pela mulher, que por sua vez perdeu, no Apocalipse de João a mulher sofre as dores de parto e enfrenta o dragão, e desta vez vence. Ou seja, ainda que tudo aponte para uma derrota sobre o mal, a vitória é possível. O texto não nos faz apontamentos de uma batalha onde Deus iria entrar na luta e enfrentar o mal pessoalmente. Pois Deus e o mal estão separados ontologicamente. Deus é ser divino e superior ao mal, e por ele não pode ser afligido.
O mal é uma força contrária ao bem e que pode, e deve, ser enfrentada na esfera humana. Os discípulos de Jesus ao voltarem de uma empreitada onde anunciavam as Boas Novas, se alegraram por ver que o mal lhes era submetido (não vou entrar no mérito da demonologia bíblia, que neste momento é inútil aqui). Em seguida Jesus lhes diz que o mal não estava no nível dos céus, em nível divino, e sim humano (Lc 10:18). E como está no nível humano, pode ser enfrentado e vencido pela ação de seus seguidores no mundo. A palavra de incentivo que nos é dirigida está na oração do Cristo que pede ao Pai que não nos tire do mundo onde o mal se encontra, como alguns pregadores estão aguardando, mas que não desanimemos face ao mal (Jo 17:15).
Sim, a Mensagem de Jesus é que o mal precisa ser enfrentado por nós, pois, ele o mal sempre estará entre nós, até que seja totalmente eliminado. Ainda que pareça que os poderosos estão mais fortes e que nossas ações não irão alimentar e curar um mundo faminto e doente, não devemos cruzar os braços esperando as luzes se apagar para só assim, como espectadores, nos movermos. Somos os atores principais no espetáculo da vida e o próprio Deus escreveu e dirige essa peça. As duas únicas coisas que o cristão não pode fazer frente ao mal é pagar o mal com o mal e ficar inerte torcendo para que as desgraças se perpetuem. Como disse Paulo, "não se deixe vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12:21). O mundo espera que você entre em cena.
*Esta reflexão surgiu á partir de uma prazerosa conversa com a amiga Aíla Pinheiro.
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