Frases

12 de set. de 2012

Um saudosista incurável


"Eu nasci na época errada", é um dos meus pensamentos favoritos. Eu já nasci fora de moda. "Um tanto ultrapassado", alguém poderia dizer. Prefiro a música antiga, com cheiro de poeira e amarelada pelo tempo. Gosto de carros antigos que na minha opinião eram muito mais charmosos. Gosto da maneira como as pessoas conversavam há sessenta ou setenta anos atrás. Gosto ainda dos antigos modos de viver: chegar no horário marcado; escrever uma carta e esperar meses pelo retorno; não ser encontrado com tanta facilidade como as oferecidas hoje pela internet e telefonia celular. Eu gosto mesmo é de coisa velha, aquelas que foram feitas para durar uma vida inteira e quando estragava bastava consertar e não simplesmente trocar por outra mais nova. Sou um saudosista, a la Nelson Gonçalves na música Naquela Mesa.

Recentemente assisti ao filme Meia Noite em Paris, onde a trama é a seguinte: o escritor Gil viaja á Paris e encontra um meio de voltar a Paris de 1920, onde ele crê ser mais interessante. Lá ele conhece personagens do passado e experimenta as sensações do passado. Ele se apaixona por Adriana que por sua vez acredita ter nascido na época errada. Um filme belamente paradoxal.

O descontentamento com o presente não é algo compartilhado por todos, eu sei, mas há um grande número de pessoas que sentem que o presente não é aquela maravilha que nos foi prometida no passado. Os avanços tecnológicos em alguns âmbitos não produziram vida. Gasta-se muito em medicina estética, mas pouco com iniciativas para erradicar a fome. A Internet que poderia aproximar as pessoas é responsável pelo isolamento dessas. E quando há relacionamento eles são opacos e desinteressados. Quão terrível é uma roda de amigos tendo ás mãos celulares conectados á Internet e conversando... com eles mesmos! Sinto no presente um vazio de sentido. Perdemos um "elo" importante nessa evolução. 

Perdemos o sentido de valorização das coisas duráveis: tudo é substituível. O valor dado ás coisas e ás pessoas são frágeis. Tudo é substituído com enorme facilidade e impressionante rapidez. Há alguns anos um amigo trouxe dos Estados Unidos um par de patins que aqui era vendido por um preço exorbitante. Os patins foi encontrado no lixo. Sim, no lixo. Seu defeito? As rodinhas estavam gastas. É o mesmo que abandonar no ferro velho um carro deste ano simplesmente por seus pneus estarem carecas. Tudo é feito para não durar, feito para ser descartável. No âmbito dos relacionamentos o mesmo pode ser dito. As pessoas não valorizam mais os relacionamentos como antigamente. O valor das pessoas é dado pelo que elas possuem e não pelo que elas são. Se você perguntar para alguém hoje quem ela é, responderá sou médico, ou advogado, ou o daquele carro/casa/etc. Não que isso seja um problema exclusivo de nossa época, mas creio que esteja mais atenuado.

Sou saudosista, já disse, mas jamais um nostálgico. O que anseio do passado era realmente bom e tangível, e não algo utópico. Há no passado coisas que me fazem rir e coisas que me fazem chorar. E como cidadão do presente busco tudo de bom já vivido pelo ser humano na arte, literatura, música e nas outras expressões de vida, como norteadores do meu modo de viver. E como "futuro cidadão do passado" me sinto compelido a produzir bons frutos que serão motivos de suspiro aqueles que olharem para trás. Sou convidado pela vida a mover rumo ao que conecta esse mundo á vida, e "vida em abundância". Foi isso que Jesus prometeu. E dessa promessa sou co-participante na execução dela, uma vez que ele nos confiou essa tarefa (Lc 22:29). Cabe a cada um de nós contribuir para que as pessoas do futuro tenham saudade de nossa época.

Um comentário:

  1. Então somos 2 saudosistas incuráveis, rsrsrsr....

    Me identifiquei por completo com o seu texto, em tudo mesmo.
    Aqui vai uma reflexão: Não está diferente hoje em relação a igreja (quase que no geral), ness ponto, hoje O valor das é dado pelo que elas possuem e não pelo que elas são,bispos, apóstolos, semi-deuses (como já ouvi falar em algum "mero" lugar rsrsr), as "autoridades" eclesiásticas. Ou por exemplo como já vi em uma determinada denominação Neopentecostal, aonde um certo pregador conduzia o culto e uma forma diabólica, macabra, mas como o $dízimo$ deste era bem gordinho, nada era feito. Tudo isso também é evidenciado pelo movimento gospel de nossos dias. E o pouco tempo que tenho acompanhado esse blog, até me admirei do mero autor do texto não abordar esse ponto no tema rsrsrsrsr..


    Um forte abraço!

    :-)
    Fica na Paz de Cristo!!!

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