Aquilo ao qual ele ensinou seus discípulos a lutar."
Friedrich Nietzsche,
A vontade de poder § 168.
"Deus, onde estás?", perguntou o cantor. Fui procurar Deus na igreja e ele já não estava mais naquele lugar de gélido calor. Havia saído e feito amizade com os marginais que a sociedade insiste em excluir. Porque já não tem residência fixa, ó Criador? O silêncio ensurdecedor traz respostas as minhas indagações.
Em busca de comprar seu favor que sempre foi de graça, fizemos tudo o que ele não pediu de nós. "Quem requereu isto de vossas mãos?". Cuidamos de detalhes que para ele não era o principal. "Dizimam a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezam o juízo e o amor de Deus". Fizemos uma casa pra ele que tinha todo o planeta como casa (Sl 24). Estaríamos nós tentando enclausurá-lo em nossa interpretação, cidade ou religião? Ele não não habita em construções feitas por mãos humanas (At 7:48). Escolheu outro templo, onde pudesse ser livre para ir e vir, feito com suas próprias mãos (1 Co 3:16; Gn 2:7).
Demorei para entender que Jesus além de querer mostrar para os judeus que ele não iria mais morar naquela construção de pedras, não queria que fossemos visitá-lo lá. Ele queria tudo no chão. "Derrubem este templo, e em três dias o levantarei [...] Ele, porém falava do santuário do corpo". Ele queria que o encontrássemos andando pelo mundo, numa roda de amigos, numa festa de aniversário ou casamento, numa cela de prisão, na cama de um hospital, na poesia do poeta, na letra das canções de liberdade, na crítica do descrente, no abraço do que não acredita nele...
Isso aconteceu logo após Jesus expulsar os vendilhões do templo, citando o profeta Jeremias (7:11). João diz que os discípulos compreenderam o lamento contido no salmo 69, que diz "Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe. O zelo da tua casa me devora". Jesus estava mostrando o quanto a instituição que demos o nome de Betel, Casa de Deus, nos tira da vida a qual ele nos chamou para viver. Ora, há cultos de segunda á segunda em algumas igrejas...
As paredes do templo não conseguiram segurá-lo. Lhe aprisionavam. O fazia ausente das outras ovelhas. "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco". Gente a qual Jonas se negou a ser mensageiro de Boas Novas. Gente que não sabe distinguir a mão direita da esquerda, mas ele tem enorme compaixão (Jn 4:11). Gente que grita pelo Deus que não conhecem quando cantam:
Se os cristãos que eu tenho visto / Representam o verdadeiro Deus do céu / Então não é um lugar onde eu gostaria de estar / Mas se eu estou vendado, por favor abra meus olhos e me ajude agora... - Betrayed, da banda Antestor.
Jung Mo Sung, disse que a igreja institucional é responsável por recontar a história desse Deus, para que a sua memória não seja esquecida¹. No entanto, ela é um meio e não um fim. A finalidade da igreja de quatro paredes é nos direcionar ao Cristo, e não aprisionar-nos como se fosse uma espécie de ambiente santo, melhor que os demais ambientes onde o Cristo se encontra.
Continuo procurando pelo Cristo. O encontro numa partida de futebol, na peça de teatro, no passeio com os amigos, me esperando nos presídios, hospitais e debaixo das marquises. Ouço sua voz na música que não toca na igreja, na literatura, na película cinematográfica, no vôo dos pássaros, no suor do trabalhador, no beijo dos namorados, nas lágrimas dos que choram, na vida e vida em abundância (Jo 10:10).
A minha inquietação se dá no momento onde a igreja canta: "Chega! de ser envergonhado / Chega! preciso ser exaltado / Chega! Meus inimigos verão, a minha Exaltação"². Se dá quando cantamos mais eu, meu e minha do que seu e nosso. Quando as orações deixam de ser em nome de Jesus e passam a ser em nome de um homem qualquer³. Deus, onde estás?
¹ - http://www.youtube.com/watch?v=fu_yciCiWBQ
² - http://www.youtube.com/watch?v=cAMb7Px3qwU
³ - http://www.youtube.com/watch?v=D_TlajyRQ-4
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