Frases

11 de jan. de 2012

Os Jardins do Inferno


por Maurílio Ribeiro da Silva

Cledir finalmente adormeceu. Não que a viagem fosse cansativa, afinal, o jatinho era novo e confortável, fruto de um profícuo ministério. O sono veio embalado por recordações da infância pobre. Na inocência ele queria correr sobre nuvens de algodão doce e brincar com anjinhos de cabelos encaracolados. O sono profundo não lhe permitiu sentir a turbulência, o pane e a queda.

Cledir acordou assustado, tendo os olhos ofuscados por um brilho intenso. Com o tempo ele acostumou ao brilho e percebeu que estava diante de um paraíso de indescritível beleza. Ruas de safiras azuis com paralelepípedos de topázio contrastavam com as calçadas de fino mármore branco.

No fim da estrada um jardim se erguia imponente. Apesar da beleza, era artificial. Pedras sardônicas formavam um tapete multicor entre as árvores, que por sua vez, eram imensos topázios de cor âmbar com folhas de pequenas esmeraldas. As frutas eram reluzentes diamantes do tamanho de maçãs ou grandes turquesas azuis. Mosaicos de ônix, jaspe e carbúnculo formavam a imagem de um anjo de raríssima beleza.

Cledir deduziu que só poderia estar no céu. Tanta riqueza e beleza só poderiam ser obra de Deus. Durante toda a vida ele pregou mensagens sobre riquezas, prosperidade, o semear, a liberalidade e agora se confrontava com a certeza absoluta de que tomara o caminho certo.

Apesar de encantado com tanta riqueza, Cledir se sentiu extremamente só, sedento e faminto. Nada ao redor poderia servir de alimento ou bebida e não havia uma viva alma para conversar. O que era incômodo momentâneo se tornou tormento insuportável.

Cledir decidiu procurar ajuda. Ele caminhou pela estrada de safiras por várias horas. Seus pés sangraram, cortados pelas pedras preciosas. Quase sem forças, ensanguentado, sedento e faminto, ele avistou ao longe um castelo de beleza indescritível. Muralhas de ouro enfeitadas com detalhes de turquesas, safiras e todo o tipo de pedras preciosas circundavam o castelo. Havia um portão largo, escancaradamente aberto, era um convite ao caminhante.

Cledir juntou as forças que sobraram e correu intensamente, passando sob a placa que dizia: “Castelo do senhor das pedras afogueadas” (Ezequiel 28:13-16).

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