Frases

3 de dez. de 2015

Aproximações entre Brahman e Jesus


Dos deuses védicos o que mais se assemelha ao Deus cristão é, sem dúvidas, Brahman. Segundo os mais antigos Upanixades, ele é identificado como "o Um" neutro, o ser primeiro. Este ser é "impensável, ilimitado, eterno, o Um e o todo, 'Criador' e 'senhor' do mundo". Ele encerra em si todos os atos, desejos, odores e paladares. Os indianos acreditavam o "atman" que habitava em seus corações, ainda que fosse menor que um grão de cevada, menor que um grão de mostarda, ele seria maior que a Terra, maior que a atmosfera, maior que todos os mundos. "Abrangendo todos os atos, todos os desejos, ... abrangendo todo este mundo, ... isso é meu 'atman' no coração; isso é Brahman. Ao morrer, eu entrarei nele", acreditavam os indianos (Brhadaranyaka Up., III, 7, 3).

O "atman" representa a essência divina no homem. Segundo o Rig Veda, X, 90, Brahman habita o coração do homem, através do "atman", o que implica a identidade entre o verdadeiro "Eu" e o ser universal. No "post mortem", o "atman" se une ao Brahman no "mundo do relâmpago". Lá os que morreram encontram uma "pessoa espiritual" ("purusa manasah", isto é, "nascido do espírito"), e esta o conduz até os mundos de Brahman, onde viverão durante muito tempo e não retornarão mais. A união do "atman" com o ser universal (Brahman) constitui de alguma forma uma "imortalidade impessoal": o "Eu" confunde-se em sua fonte original, Brahman. "A luz que brilha além desse Céu, além de tudo, nos mais altos mundos além dos quais não há coisas mais altas, é na verdade a mesma luz que brilha no interior do homem" (Chandogya Up., III, 17, 7).

De modo semelhante o Deus dos hebreus, Javé, é identificado como "o Um" por seus seguidores (Dt 6.4). De igual modo, Javé é eterno, todo poderoso, completo, criador de todas as coisas e seu senhorio é testificado na Bíblia. A finalidade do mundo e os atos de Deus são lembrados por Paulo na carta aos romanos (11.36). Enquanto para os indianos o "atman" habitava no coração do homem, para o judeu era a "ruach" ("espírito"; "fôlego de vida") que habitava no homem. Ao morrer, o espírito do homem retorna para Deus (Ec 12.7). 

O cristianismo concebeu a ideia de que o Espírito Santo, o espírito de Deus, habita no homem (1 Co 6.19). Assim, Deus habita no homem através do Espírito. A promessa bíblica aos seus seguidores é que o Cristo, filho de Javé, irá conduzir os seus até o Pai  através do Espírito. Uma das tarefas do Espírito é aperfeiçoar o fiel até o dia em que ele encontrará o seu Criador (Fp 1.6), nesta vida ou após dela. No seu Deus, o cristão encontra a imortalidade. "Seremos semelhantes a ele", afirmou João (1 Jo 3.2). O cristão ("pequeno Cristo") é, então, uma pequena fração de seu Deus: de dentro do cristão brilha uma luz que não é sua, mas do próprio Deus.

Referências retiradas de: ELIADE, Mircea. "História das Crenças e das Ideias Religiosas" - Vol. I: Da Idade da Pedra aos Mistérios de Elêusis. Rio de Janeiro, Zahar, 2010, p. 231-233.

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