Tenho pouco ou quase nenhum contato com amigos que comigo cursaram Teologia. Mas o raro contato que tenho me deixa extremamente triste. Explico.
Alguns (não todos!) destes amigos tiveram contato com uma teologia saudável, teologia realmente significativa e que ia de encontro com muito do que anteriormente nós, de modo geral, entendíamos como certo. Tendo meu caso como parâmetro, percebi que este processo tirou-me muitas certezas que estavam fundadas em bases não sólidas. As muitas dúvidas que dali surgiram, me direcionaram para uma reflexão mais moderada e humilde. Acredito piamente que estas dúvidas me fizeram caminhar.
O que me entristece em relação aqueles amigos da teologia, é que eles se formaram, o tempo passou e suas velhas reflexões fundadas em areia voltaram. Em alguns casos, vejo que se tornaram mais "ateológicos" do que antes. Talvez seja o revés que a teologia cause em muitos, o revés de nos levar a crer que nossa reflexão "pós-faculdade de teologia" respalda qualquer coisa que dissermos e (não) refletirmos. "Eu fiz teologia; sei o que estou falando", alguns talvez arrazoem consigo.
Não sou ingênuo de pensar que todos os que passaram pelo curso conseguiram gerar conhecimento a partir das informações lá fornecidas ou oriundas de outras fontes. Mas me parece que muitos apenas buscaram o diploma. Além do status (essa palavra deve ter sido gerada no ventre Morgoth, num dia de diarreia brava), o diploma é usado para tranquilizar o próprio teólogo formado. Uma vez concluído o curso, "já sei o que deveria saber para falar sobre a religião". Com isso, nada de novo é acrescentado ao cabedal de conhecimento. A estagnação do saber faz com que muitos não se interessem por novas percepções teológicas que são propostas de quando em quando.
Teologia não pode ser escrita à tinta; ela deve ser escrita à lápis, pois o que temos por certo hoje por ser motivo de repulsa amanhã. No campo teológico não há espaço para absolutos. Não há verdades absolutas, quando falamos de teologia. A vida daquele que um dia pôs-se a estudar teologia deve ser o incansável ato de crer que "navegar é preciso, viver não é preciso".
Talvez seja a certeza e ausência de dúvidas que fez com eles parassem pelo caminho. As certezas são como um porto seguro onde navegadores preguiçosos ancoram seus navios do saber. Com o tempo o mar, onde as dúvidas habitam em cada onda, tempestade, correnteza, não atraem mais os antigos aventureiros. A certeza da terra firme é lamentavelmente confortável. Uma pena. "A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida. A fé não é o oposto da dúvida, a crença é", disse Jacques Ellul.
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