Frases

6 de nov. de 2015

A pena envenenada

É triste e engraçado ao mesmo tempo como podemos ser motivados por rancores que a vida nos proporciona. É triste, pois este sentimento não pode produzir nada de bom. E é engraçado, pois nos deparamos com o nosso eu ao olharmos por este espelho chamado "falta de inspiração" e percebemos o quanto infantis somos - ou fomos. E diante dessa infantilidade, a única coisa que podemos fazer é rir de volta e seguir adiante.

Em um passado recente não me faltava inspiração para escrever. Poderia escrever um texto por dia que ainda não me faltaria objeto de reflexão. Contudo, assim como cantou Cazuza, "minha metralhadora cheia de mágoas" disparava em tudo e todos os quais se propunham a usar em causa própria a religião para enriquecer e manter pessoas aprisionadas em seus sistemas inventados. Em outras palavras, minha pena usava tinta envenenada para conjugar verbos dessintonizados do Verbo.

Não sou escritor profissional. Sou apenas um cara que gosta de escrever. Mesmo sendo um escritor amador, sofro e muito por estar vivendo um hiato. Cada linha que escrevo neste momento me cobra um esforço hercúleo. Vejo com pesar que muitos amigos escrevem bastante sobre os mesmo assuntos que antes eu me dava à escrever. Não os invejo. Sei o que inspira a muitos deles. E isso já não me inspira mais. 

Por muito tempo me vi como um profeta veterotestamentário que, com suas palavras duras, descrevia o que estava acontecendo de errado. Mas ser um profeta sentado no presente olhando por seu binóculo para o passado, temendo pelo futuro é muito fácil. Não apenas fácil, mas também diferente do que geralmente faz as penas envenenadas pelo rancor, pois muitos de nós que fazíamos (ou fazemos) isso, não se envolvem em busca de solucionar o problema. Não padecem ao lado dos condenados ao destino trágico, como fez Jeremias que marchou rumo á condenação ao lado daqueles os quais ele tentou, em vão, alertar.

Por isso, não acredito que a grande maioria dos textos aos quais me refiro e que hoje são escritos, pertençam a mesma classe dos escritos proféticos. No máximo expressão a mágoa de gente machucada. Gente que gostaria que as coisas fossem diferente... Mas não deram conta dos processos que eram necessários enfrentar e preferiram se afastar. Assim como eu mesmo o fiz.

Hoje eu busco escrever de modo que minha pena seja tão doce quanto a mais doce fruta que Deus criou. Quero que meus inscritos inspirem pessoas a continuarem a caminhada neste árduo solo chamado "Igreja". Quero ainda que ao lerem o menor dos fragmentos de meus escritos as pessoas possam sorrir o riso que o Mestre riu ao ser recebido em Jerusalém por aqueles os quais em breve iriam traí-lo - mesmo já sabendo de seu destino. Que Deus seja doce inspiração todos os dias. Amém.

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