Frases

15 de jan. de 2013

Primeira semana


Desde o último dia do ano de 2012 eu me desliguei oficialmente da minha comunidade de fé. Os motivos que me levaram a isso são muitos e não é conveniente torná-los públicos. Não agora, pelo menos. O motivo que me leva a escrever depois de um longo hiato é a necessidade que sinto de narrar os fatos que se seguem desde que me desliguei da comunidade de fé onde exerci a função pastoral ao longo dos últimos três anos. Tentarei ser o mais lúcido o possível.

Medo. Senti muito medo. Ainda sinto. As incertezas que pairam sobre minha mente são maiores do que nunca. As certezas se foram junto com as esperanças. Estas últimas se foram quando vi que havia um sistema que cantava uma música diferente da que irmão mais velho cantou. E a cantava em alto som para que não se ouvissem outra canção. Eu era apenas uma voz. Contudo, não deixei de ouvir alguns sussurros em meio à multidão.

No primeiro dia do ano eu estava tranquilo e minha esposa contente. Ela carregou alguns fardos que quando tirados, muito lhe alegraram. Fiquei feliz por ela e por mim. Nos dias que seguiram tentei não pensar muito nos irmãos que deixei para trás e me concentrei em minha viagem á Monte Verde, onde comemoraríamos, com certo atraso, nosso aniversário de casamento.

Chegamos no sábado. A cidade continuava bela e aconchegante. Almoçamos e fomos para o hotel. À noite descemos para ir a um restaurante e comprar coisas gostosas. Lá sempre tem coisas gostosas. Entramos em uma loja para comprar uma camisa com o nome da cidade, como fizemos a oito anos atrás em nossa Lua de Mel. Comprar roupas sempre me deixa sufocando, então resolvi sentar em um banco do lado de fora e aguardar minha esposa escolher sua camiseta. Foi quando alguém passou e comentou com um comerciante:

- Está trabalhando até agora? É sábado e já é noite!

"É sábado e já é noite". Pela primeira vez em três anos eu estava longe das responsabilidades com os jovens da comunidade. E pela primeira vez no novo ano eu chorei. "Não precisava ser assim", me peguei afirmando. Os fardos que pesavam os nossos ombros jamais haviam sido as pessoas que cuidávamos. É sábado e eu lamentava pelos buracos e pedras que haviam no caminho. Sim, era sábado e já passavam das oito.

Dizem que verde é a cor da esperança. Em Monte Verde, eu ansiava que a minha esperança no sistema eclesial fosse restaurada. Que outras saídas não fossem necessárias. Que outros "Felipes" não chorassem em sua viagem de comemoração. Que outros jovens não perguntassem a razão de seus líderes não continuarem á frente do pastoreio. Que não houvesse mais gente machucada por gente que se diz "filho do Amor". Ah, como eu preciso de montes verdes de esperança! Por hora, só me resta elevar os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. Ele sempre vem.
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