Frases

24 de set. de 2012

O óleo do Monte das Oliveiras


"Mas ele foi [...] moído por causa das nossas iniqüidades."
Isaías 53:5

O ator e diretor Mel Gibson nos deu uma imagem da violenta da Paixão de Cristo, em A Paixão de Cristo, e esta imagem vermelha irá permanecer por décadas na mente de quem assistiu ao filme. De fato Jesus sofreu e foi terrivelmente exposto a atos de violência física e psicológica. No entanto, há um erro de compreensão no paralelo da profecia do profeta Isaías com a descrição do evento no Novo Testamento. "Ele foi moído". Mas "moído" por quem?

Ao leste da cidade de Jerusalém encontra-se o Monte das Oliveiras (Mc 14.26), onde havia uma vasta plantação de Oliveiras que supriam, em parte, a necessidade de óleo da cidade e de regiões próximas. No entanto, importava-se de Peréia certa quantidade de azeitonas para a extração do óleo usado no Templo. Embora possa parecer estranha a importação deste importante alimento de uma região pagã, há no Talmude indicações de que as azeitonas eram levadas até Jerusalém para somente ali serem prensadas em lagares, como no Getsêmani. "Getsêmani" significa lagar, máquina onde se espremem uvas, azeitonas, prensa para bálsamos.

Jesus se proclama o Ungido do Senhor prometido, que veio para "evangelizar os pobres e curar os quebrantados do coração" (4.18). Ungido é um dos significados do nome/substantivo Cristo, do grego "Christós", do hebraico "Mashíach" (Messias). A "unção" veterotestamentária se dá no derramamento de óleo sobre a pessoa ou animal (Êx 29; Lv 8:12; Ec 9:8). Jesus é banhado de ungüento por uma mulher, de nome infelizmente desconhecido, e ele afirma que essa atitude seria lembrada onde o Evangelho fosse anunciado tamanha a importância daquele ato.

Por conseguinte, ele vai ao Monte das Oliveiras, num "lugar chamado Getsêmani" (Mt 26:36). Separa alguns discípulos para com ele orar devido a tristeza e angústia que estava sobre si. No Getsêmani, lagar de azeitonas, o Ungido de Deus é moído, como uma azeitona. Naquele lagar, é extraído dele óleo precioso. E não foram os socos e ponta-pés, chicotadas e porretadas que espremeram o Cristo. Na sua oração compreendemos o que os escritores do Evangelho tentaram nos dizer: no Getsêmani, lugar de extrair o óleo, do Messias é retirado o óleo por meio da negação de sua vontade.  É por isso que ele repreende os discípulos por não orar, prevendo que cairiam na tentação de fazer suas próprias vontades (Mt 26:41; 51).

Jesus de Nazaré e Jesus Cristo estavam presentes naquele que em meio a angústia e o medo, verte suor e sangue, por Hemartrose, clamando ao Pai por alívio e amparo: "se queres, passa de mim este cálice". E orou intensamente pela noite afora. Mas ao deparar com seus discípulos dormindo acorda-os e lhe diz para orar para que não caiam em tentação. Ele pede para os discípulos orem para não cair em tentação eele mesmo ora ao Pai pedindo socorro, mas reconhece que não é a sua vontade, mediante ao medo, que deve ser feita e sim a vontade do Pai: "todavia não se faça a minha vontade, mas a tua".

De Jesus, no lagar do Monte das Oliveiras, é extraído óleo curador para a humanidade na autonegação da vontade própria, por meio do moer. Sim, "ele foi moído". E no moer de Deus, o Cristo cumpre o propósito de Deus para sua vida. No Getsêmani, aprendemos que a unção que se espera de cada um de seus filhos é a obediência: "Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (Jo 15:14). E o mandamento é: "Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (v.12).

Jesus foi moído. Moído por si mesmo no ato de negar a sua vontade e se submetendo a vontade de Deus. É isso que o episódio do Getsêmani quer nos dizer. De modo semelhante o cristão é aquele que passa pelo lagar da vida estando em inconformidade com a ideologia presente no mundo (Rm 12.2), vivendo como pessoas novas (Jo 3.3), cumprindo a justiça (Mt 5.20), sendo mensageiros da paz (Mt 5.9), negando a suas próprias vontades e natureza (Lc 9.23) e seguindo-o... até a cruz! O óleo era um alimento para o judeu. E o "óleo" proposto pelo Cristo deve ser o nosso alimento.

Um comentário:

  1. Boa tarde Felipe!
    Tudo na Paz?

    Ótima reflexão (como sempre rsrsr..)!


    Pois é, precisamos compreender e mostrar ao mundo essa verdadeira unção que é o amor ao próximo, que deve ser de uma forma altruísta.

    Amando a Deus negando á nós mesmos e amando ao próximo como a nós mesmos, estaremos cumprindo toda a Lei.

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