A imagem da transexual junto a cruz durante a última Parada do Orgulho LGBT, chocou muita gente. Muitos sentiram-se ofendidos pela forma a qual Viviany Beleboni saiu durante o evento, tendo em vistas um possível modo de ofender o símbolo maior da fé cristã, a Cruz de Cristo. Ofensa ou falta de poesia? Eu diria que faltou poesia na leitura feita por alguns.
Na antiguidade a cruz era utilizada como forma de punição para criminosos, expondo-os á tortura e vergonha. Após Cristo ser condenado á morte numa cruz, ela tornou-se símbolo sagrado para os seguidores de Jesus. Segundo a tradição Católica, Pedro teria se negado a crucificado como Cristo, por entender-se como indigno de morrer do mesmo modo que seu salvador. E assim, fora crucificado de cabeça para baixo. De morte maldita (Dt 21.23), a crucificação tornou-se uma rememoração aos cristãos do sacrifício salvífico de Cristo. Sacrifício gerador de perdão e reconciliação de Deus com toda a humanidade. A cruz é sinal de esperança naquele que passou por ela e a morte venceu.
Ao subir numa cruz, Viviany lembra-nos de maneira poética que existe uma realidade duramente vivida pelos gays em nosso país: eles são feitos malditos todos os dias. E muitas vezes isso é feito por gente religiosa; gente tão merecedora da Cruz de Cristo quanto a transexual da Avenida Paulista. Sim, há falta de diálogo, falta de empatia, falta de Graça e de amor para com a população gay. Há também desrespeito velado e explícito, além de muita perseguição. Ao subir na cruz, Viviany lembra-nos, ainda que inconsciente, que todo aquele que sofre encontra em Jesus um semelhante. Lembra-nos que foi gente religiosa que pediu a crucificação de Jesus, do mesmo modo como gente religiosa crucifica dia após dia os gays no Brasil. Lembra-nos que existe entre a Cruz e uma transexual, um enorme muro de preconceito que vitimiza pessoas a quem Deus ama. Com bem disse Isaac Newton, "construímos muros demais e pontes de menos".
Em toda viagem que faço e encontro uma cruz grande, seja numa praça ou igreja, faço questão de tirar fotos comigo nela pendurado. Coisa minha, sabe? Acaso Viviany é menos merecedora do símbolo da cruz, enquanto símbolo de libertação de opressão e de opressores? É menos merecedora de ir á Cruz em busca de esperança do que todos nós? Creio que não. É para Cruz que todos devemos correr. Afinal de contas, foi o próprio Jesus quem disse "venham a mim, todos os que estão cansados e oprimidos, e eu os aliviarei." Que não sejamos pedra de tropeço para que as pessoas não cheguem á Cruz!
A vergonha exposta na cruz de Viviany, não foram suas próprias vergonhas, mas a vergonha da Igreja. Sim, o modo o qual a Igreja brasileira (em sua maioria) trata os gays é vergonhoso. E esta vergonha foi exposta na Avenida Paulista para que todos pudéssemos ver, encarando nossa face no espelho que Viviany nos deu. Quem me dera que depois de três dias de reflexão após essa cruz, todos nós cristãos pudéssemos ressurgir com uma nova mentalidade em relação a comunidade gay de todo o mundo.
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