Frases

14 de mar. de 2011

A tentação dos Doze


A noite da Última Ceia foi uma noite repleta de ensinamentos sobre o caráter humano, o qual Jesus veio dar uma série de lições e exemplos. Divisão de alimentos, compartilhamento de responsabilidade, exemplo de servidão, anúncio de traição, negação e morte, choro, etc.

Depois de Jesus ter repartido o pão e bebido do cálice e ainda ter anunciado que um traidor com Ele comia (Lucas 22:19), os discípulos começaram a se perguntar qual deles seria o traidor (v.23). Certamente eles suspeitavam de alguns, mas não ousaram acusar a ninguém. No calor da resenha que faziam acerca do traidor, eles começaram então a discutir (em grego filoneikia) entre si para saber qual deles parecia ser o maior, ou mais importante (v.24).

É muito comum acontecer em meio a um problema, as pessoas começarem a se colocar na defensiva, afirmando que não são os culpados pelo problema estar acontecendo. É algo intrínseco ao ser humano. Algo que o leva a dizer "Eu sou muito bom para fazer tal maldade", ou ainda "Sou diferente de vocês. Jamais faria isso pois sou importante aos olhos das pessoas".

Jesus que assistia a tudo começa então a dizer aos discípulos que eles haviam compreendido errado. Algum tempo antes a mãe de Tiago e João havia pedido uma posição de poder no reino de Jesus (Mateus 20:21) - o primeiro caso de nepotismo da era cristã, que viria a sofrer e muito com a Simonia séculos depois. O fato é que eles criam que era tendo poder é que eles seriam úteis no reino de Deus.

O Senhor disse que o modelo de outros não era o dEle (Lucas 22:26). No modelo dEle ser grande era ser servo. Aos servos seria destinado o cuidado do reino. Era através do esforço que esse reino seria tomado (Mateus 11:12). Esforço da auto-negação de um cargo, de uma posição diante da sociedade, da autoridade recebida e do direito de ser livre.

Mas somente o discípulo João registrou o exemplo que Jesus deu em relação ao abrir mão dos seus direitos. Ainda na Ceia, Jesus tomou uma toalha e começou a lavar os pés dos seus discípulos (João 13:5). Podemos tirar alguns ensinamentos desse ato de Jesus:

- Era reservado aos escravos, e somente a eles, lavar os pés das pessoas. Jesus e seus discípulos foram cear em uma casa emprestada e por certo eles não tinham nenhuma pessoa destinada a lavar os seus pés. E o Mestre não hesitou e foi Ele mesmo servir como escravo, ou servo, dos seus discípulos. Não foi por acaso que Pedro se espantou. Era uma grande humilhação ser escravo. Ser escravo era perder todos os seus direitos como ser humano, todos os sonhos, planos, desejos, vontades, caprichos, ego, etc.

- Remover a poeira dos pés: Existe um ditado judaico que diz o seguinte: "Os discípulos (tamidim) devem ter seus pés cobertos com a poeira das sandálias de seus mestres". Ou seja, eles devem andar tão próximo, conhecer tanto os ensinamentos de seus mestres que seus pés são cobertos pela poeira que a sandália deles levanta. Devem ser próximos e íntimos. Por eles ainda não terem entendido a mensagem e o exemplo de Jesus, Ele agora lavava os seus pés removendo a poeira que cobria os seus pés, para agora cobrir com a poeira e exemplo de Jesus. "Cubram seus pés com a minha poeira e não com a de outro", poderia ter dito Jesus.

Jesus jamais mandou seus discípulos fazerem algo que Ele mesmo não tivesse feito. Ele chama, no momento do "lava-pés", a uma negação completa dos nossos direitos em prol do reino dEle. Ele fala aos que querem ser "grandes", que a escalada para o alto da montanha do reconhecimento é o serviço: é a vida como serviçal de todos (Marcos 10:43). O próprio Cristo passou por esse momento de auto-negação através da auto-esvaziação descrita em Filipenses 2:5-8 que diz que: Jesus abriu mão de sua divindade; esvaziou-se de sua Glória fazendo-se servo semelhante a sua criatura; não sendo o bastante o auto-rebaixamento, Ele "humilhou-se a si mesmo".

Somente é servo de Cristo aquele que serve. Pode parecer redundante a afirmação, mas é pontual. Em nossos dias poucos estão dispostos a servir e muitos estão prontos a serem servidos. Talvez seja por isso que vemos o reino de Deus tão distante daquilo que deveria ser. O reino de Deus é entregue nas mãos dos fiéis servos que resistem e compartilham das aflições e tentações de Cristo (Lucas 22:28-29). Tentações essas que são a de não abrir mão de nossa vida para sermos servos, de buscar ser servido ao invés de servir. De amarmos a nossa vida mais do que a vida dEle.

"Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis
também lavar os pés uns aos outros." João 13:14

Que nós possamos aprender a resistir a tentação de não sermos servos e querer fazer de Cristo o nosso servo.

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