Frases

18 de nov. de 2011

A lenda do Cabresto Sagrado


por Maurílio Ribeiro da Silva
Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti.” Salmos 32:9
Nos primórdios da humanidade os domadores descobriram que um simples artefato colocado entre os dentes de um cavalo, poderia conduzi-lo sem grande esforço para onde desejasse o cavaleiro. Toda a força, exuberância e poder do animal submetidos ao simples toque das mãos no cabresto.

Também nos primórdios da humanidade os homens descobriram que através do temor religioso, multidões incontáveis, países e reinos poderiam ser dominados. Todo o poder e exuberância do ser criado a imagem e semelhança de Deus, se tornou subjugado aos interesses de seus líderes religiosos.

Templos, imagens, ídolos, sacrifícios, sacerdotes, talismãs, castiçais, e toda sorte de objetos ditos “sagrados” começaram a inundar o imaginário e a fé do homem. A criação de Deus foi tratada como “impura”. Somente os “puros” teriam ter acesso a Deus e essa “pureza” só poderia ser adquirida pela observação de práticas, usos e costumes religiosos.

Os sacerdotes alcançaram status quo de intermediários entre a vontade de Deus e o homem. Nada poderia chegar diante de Deus se não passasse por eles. Tudo aquilo que poderia proporcionar a libertação do homem, se tornou clausura, da mais vil, pois o homem se tornou o prisioneiro e o guarda da cela.

A humanidade caminhava sob o tropeço de seus próprios erros, até que surge um homem na longínqua e inexpressiva Galiléia. Os pés descalços, as vestes comuns, os braços musculosos e as  mãos ásperas pelo roçar da madeira demonstravam intensa labuta. A pele de tez escurecida e o sotaque do norte o ombreavam com os mais simples homens do campo.

A diferença residia em suas palavras cheias de vida e vazias de sentido religioso. Onde estava o templo, o altar, o sacrifício, os castiçais e as ofertas? Que Deus ele anunciava? Um Deus que perdoa o coração contrito num mergulho nas águas? Um Deus que perdoa a mulher mais vil em seu ardente adultério? Um Deus que se contenta com as moedinhas de uma velha?

Que homem é esse que quebra os cabrestos e liberta a criação divina em todas as suas dimensões? Que profeta é esse que só profetiza a misericórdia e o perdão? Que sacerdote é esse que se lava no sangue de seu próprio sofrimento e abre o caminho, onde até os loucos encontram o caminho do lar, direto para os braços do Pai?

Que homens são esses que se levantam contra a liberdade pregada pelo galileu e pedem para si o aplauso e a honra? Que loucos são esses que em seus delírios de grandeza trazem à mão direita o antigo cabresto, agora revestido de sacralidade? Por que bradam aos homens submissão e obediência, enquanto se calam em serviço e misericórdia? Por que se lambuzam de óleo e cobram sustento enquanto observam a fome do outro?

Ostentam seus títulos como direitos adquiridos na eternidade. Direitos de serem reverenciados, obedecidos e amados, enquanto seus rebanhos se arrastam ao sabor do vento, para onde quer que lhe conduza o sagrado cabresto.

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